Fóssil exposto no museu © Anky-Man |
Nome popular: Saicania ou Saichania;
Nome Científico: Saichania chulsanensis;
Quando viveu: Período Cretáceo Superior, estágios Campaniano - Maastrichtiano, entre 83 - 66 milhões de anos;
Local: Mongólia;
Peso: 2 a 6 toneladas;
Tamanho: 1,7 metros de altura e 5 a 7 metros de comprimento;
Alimentação: herbívora.
A história do Saichania inicia-se no começo da década de 70, quando uma expedição incluindo pesquisadores poloneses e mongóis foram ao Deserto de Gobi em busca de dinossauros. Precisamente nos anos de 1970 e 1971 os paleontólogos buscaram nas inóspitas terras do Gobi e encontraram muitos fósseis, incluindo restos de anquilossaurídeos.
Um dos fósseis, um esqueleto achado na Formação Barun Goyot, em um local chamado Khulsan perto de Nemegt, Mongólia, em rochas de aproximadamente 73 milhões de anos. O fóssil veio a ser estudado por Teresa Maryańska, que em 1977 publicou a pesquisa batizando oficialmente o Saichania chulsanensis .
O fóssil do Saichania era um exemplar bem completo, contendo o crânio inteiro, pernas, parte da couraça ainda em posição de vida, cintura escapular (ossos do ombro que ligam o corpo às pernas), membro dianteiro esquerdo e vértebras do pescoço e das costas. O fóssil estava tão bem conservado que a paleontóloga que o batizou deu-lhe um nome derivado do idioma mongol, Saichania, que em tradução livre significa "Bonito" ou "O que é bonito". O epíteto específico "chulsanensis" indica a origem do fóssil, da região de Chulsan ou Khulsan . O fóssil tipo desse dinossauro foi numerado como espécime GI SPS 100/151 originalmente, porém o Instituto Geológico onde ele estava na Mongólia teve seu nome alterado para Centro de Paleontologia da Mongólia, e a sigla foi alterada para MPC 100/151.
Posteriormente mais espécimes surgiram, que foram associados ao gênero Saichania, sendo um deles o exemplar ZPAL MgD-I/114, composto de um teto craniano e trechos de couraça. Em 2011 um exemplar bem completo, numerado MPC 100/1305, foi descrito como um Saichania juvenil, porém a paleontóloga canadense especializada em anquilossaurídeos Victoria Megan Arbour analisou a pesquisa e afirmou haver um engano na interpretação.
Segundo ela, o exemplar MPC 100/1305, embora bem preservado, não tinha crânio e a cabeça presente junto com o esqueleto seria uma réplica do crânio do primeiro exemplar achado e descrito em 1977. Sendo assim, ela sugeriu que o esqueleto na verdade seria de um tipo diferente de anquilossaurídeo, um Pinacosaurus.
Crânio do holótipo MPC 100/121 © Dinocasts |
Segundo ela, o exemplar MPC 100/1305, embora bem preservado, não tinha crânio e a cabeça presente junto com o esqueleto seria uma réplica do crânio do primeiro exemplar achado e descrito em 1977. Sendo assim, ela sugeriu que o esqueleto na verdade seria de um tipo diferente de anquilossaurídeo, um Pinacosaurus.
Enquanto que Arbour acabou considerando este exemplar como não sendo um Saichania, ela publicou um estudo de outro exemplar, armazenado no Instituto de Paleontologia da Academia de Ciências da Rússia, dizendo se tratar de um Saichania. O fóssil consiste de um crânio praticamente completo com crânio, tendo recebido o número PIN 3142/250. Além disso, em seus trabalhos Arbour considerou outros dois gêneros chineses como sinônimo de Saichania, especificamente Tianzhenosaurus youngi e Shanxia tianzhenensis. Ainda na coleção dessa mesma instituição russa há um exemplar completo, PIN 3142/251, incluindo crânio e esqueleto pós craniano, aguardando estudo.
Mas na ciência nem sempre tudo são flores e com isso quero dizer que nem todos concordam com Victoria Arbour. Um estudo em preparação por Penkalski e Tumanova contradiz Arbour, dizendo que o espécime PIN 3142/250 é realmente um crânio da espécie Tarchia terease e não um Saichania. Sendo assim, a maioria dos cientistas também considera o PIN 3142/250 como um Tarchia. Só nos resta aguardar e ver o que o futuro revelará desse debate.
Réplica do crânio PIN 3142/250 - agora considerado um Tarchia
© Dinocasts
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- Dinosauria Owen, 1842
- Ornithischia Seeley, 1887
- Thyreophora Nopcsa, 1915
- Ankylosauria Osborn, 1923
- Ankylosauridae Brown, 1908
- Ankylosaurinae Brown, 1908
- Saichania chulsanensis Maryańska, 1977
Obs: em laranja está o nome do autor e o ano em que o grupo foi criado.
O Saichania era um anquilossaurídeo grande. Maryańska estimou seu comprimento em 7 metros e outras pesquisas que calcularam seu tamanho confirmaram essa medida, com um valor máximo de 6,6 metros. Entretanto, Gregory S. Paul em 2010 deu uma estimativa menor de 5,2 metros, com um peso de duas toneladas. Achados de clavas da cauda de indivíduos gigantes sugerem tamanhos maiores, mas não podem ser confirmados, pois o Saichania original não possui cauda preservada para comparar e ver ser é o mesmo animal.
O tamanho do Saichania aqui neste post foi estipulado variando entre a menor e maior medida, o mesmo foi feito para o peso do animal, pois embora Paul tenha dito que teria só 2 toneladas, o estudo recente de Arbour e Mallon (2017) sugeriu um peso de quase 8 toneladas para o Ankylosaurus, que teria aproximadamente 8 metros, pois um animal desse porte e ainda recoberto por carapaça seria bem pesado.
Transferindo esse raciocínio para o Saichania, que é um pouco menor que o anquilossauro, é lógico pensar que ele apresentasse uma massa similar, ao menos cinco toneladas, em vez de apenas duas toneladas como proposto. Sem dúvida era um bicho grande, com um crânio robusto de 45 centímetros de comprimento e 48 centímetros de largura. E falando nisso, vamos começar a entender o animal da cabeça para trás!
Embora resistente e avantajado, seu crânio deve ter sido relativamente leve para seu tamanho, pois tinha diversas passagens ocas chamadas sinus, interconectadas com os dutos respiratórios das narinas. Foram descritas várias passagens complexas dentro do crânio, também conhecidas como conchas nasais ou sistema turbinado (eu sei, esse nome é engraçado né... ) certamente capazes de auxiliar no tratamento do ar inspirado e expirado por esse animal. Essas passagens eram repletas de subdivisões e curvas que formavam um caminho complexo e não direto para o ar que entrava pelas narinas.
Inicialmente a pesquisadora que estudou o animal sugeriu que poderia haver em vida um órgão de Jacobson nesses espaços, um aparato comum em vários répteis que funciona como órgão de captação de odores. Entretanto hoje em dia não é uma hipótese tão forte.
Uma hipótese que é bem aceita pela comunidade científica é a de que o sistema turbinado nesses animais servia para evitar desidratação e há um bom motivo para crer nisso. A partir da análise dos fósseis e das rochas que o preservaram, paleontólogos compreenderam que o animal morreu e foi soterrado durante uma tempestade de areia, pois seu corpo estava fossilizado parcialmente articulado e em uma pose que indica que havia se agachado sobre o ventre, quase como tentando proteger-se de uma ameaça.
As rochas onde estava, preservados os fósseis são arenitos, ou seja, formadas de areia endurecida. Isso suporta a ideia de que o ambiente era árido, seco e arenoso e nesse caso ter um aparato nasal que evitasse a perda de água é fundamental. Quando respiramos o ar entra mais seco no corpo, mas dentro do pulmão ele é umedecido e ao sair, leva parte da água consigo. Se o animal vivia em um ambiente desértico, possivelmente usava esse sistema de passagens nasais para reabsorver umidade do ar quando ele voltava do pulmão. Assim o ar saía mais seco e não retirava água do corpo durante a respiração, evitando a desidratação.
Assim como outros anquilossaurídeos, os dentes do Saichania tinham formato de folha eram pequenos e não tão numerosos, totalizando 44 na parte das maxilas e 33 na mandíbula, fechando em 77 dentes na boca toda, pelo menos no espécime holótipo. Embora a forma da boca e dos dentes não fosse boa para uma mastigação avançada, era suficiente para permitir ao animal lidar com comidas duras. Além disso, o palato duro ou céu da boca era especialmente rígido e espesso, sugerindo que o animal podia lidar com comidas duras, talvez vegetação característica de ambiente árido, que cortava usando o poderoso bico córneo presente na frente da boca. Outra adaptação ao ambiente árido que esse bicho pode ter tido é glândulas de sal, por onde conseguia excretar sais minerais do corpo, sem perder água, como algumas tartarugas e aves fazem hoje.
Outra curiosidade é que um osso hioide foi encontrado, parcialmente preservado no esqueleto. Se você não sabe, esse osso fica na região da garganta, no fundo da boca e serve de ancoragem para músculos da língua. É um osso que raramente se preserva, uma raridade e indica que o Saichania deve ter sido capaz de usar a língua eficientemente para manipular comida dentro da boca ou quem sabe até fora da boca, usando a língua como uma ferramenta preênsil para capturar ramos e trazê-los para a boca, como uma girafa por exemplo.
E uma última coisa a ser comentada é a presença de alguns chifres esquamosais no animal, que são aqueles grandes e pontudos nos cantos decima da cabeça, praticamente na nuca do animal e nas bochechas, os chifres sobre o osso quadratojugal. Eles davam ao crânio um reforço maior e provavelmente ofereciam alguma proteção contra mordidas de predadores, pois eram bem grossos em forma de cone, ao contrário do Tarchia que tinha chifres mais finos. Além disso, a superfície desses chifres era mais lisa, o que diferencia esse dino de outros anquilossaurídeos locais, como o Zaraapelta.
Deixando seu crânio de lado, ainda podemos abordar a defesa desse animal dando uma olhada no pescoço. Na maioria dos animais, essa é uma região que geralmente acaba sendo muito sensível e alvo de mordidas nos ataques de predadores. O Saichania lidava com isso tendo o que chamamos de "halfrings" cervicais. Em inglês, este termo literalmente quer dizer "meio anel", pois no pescoço do animal havia uma estrutura óssea, como se fossem placas osteodérmicas maiores interconectadas por uma faixa óssea por baixo, que formava um meio círculo sobre o pescoço. Pense numa coleira pela metade, só na parte de cima do pescoço ou até mesmo como se fosse uma "tiara" de osteodermas, mas no pescoço.
O pescoço era reforçado pelos "meio-anéis" de osteodermas ou coleiras, se preferir. Foram encontradas duas dessas "coleiras", a que ficava mais perto do crânio era menos e a traseira, localizava-se mais atrás próximo do corpo era maior. Elas reforçavam o pescoço contra ataques sem tirar sua mobilidade.
O seu corpo em si, ou região pós-craniana, como se diz no linguajar paleontológico, era recoberto de placas ósseas, calombos que inclusive se espalhavam pelas pernas em alguns pontos e acreditem, até no peito e ventre, formando uma boa proteção contra choques e ataques. Realmente, mesmo sua barriga era protegida por placas endurecidas, mas há quem diga que enquanto ainda eram bebês, as placas dos anquilossaurídeos eram mais moles e só ossificavam bem com o envelhecimento, portanto a passagem para a fase adulta, é que tornavam-se totalmente rijas.
Não só a presença das placas tornava esse herbívoro um tanque de guerra biológico, mas o fato de que seu corpo era robusto e forte até mesmo para os padrões dos anquilossaurídeos! O Saichania tinha o corpo fortificado com ossificações e fusões da coluna vertebral, costelas, cintura escapular e ossos do peito, o que criava ligações entre alguns ossos, reforçando o esqueleto como um todo. Até as duas primeiras vértebras do pescoço, que normalmente estão separadas nos animais, estavam fundidas num osso só nesse dinossauro.
As costelas tinham placas ósseas que ligavam uma haste de uma costela na próxima, assim literalmente criando uma gaiola rígida para proteger os órgãos internos. E que órgãos internos esse bicho tinha! Ele era um herbívoro e plantas tendem a não gerar tantas calorias por quilo de alimento quanto carne. Então ele tinha de comer plantas duras do deserto em grande quantia para sobreviver. Com poucos e pequenos dentes, não conseguia mastigar eficientemente como um hadrossaurídeo por exemplo, então compensava isso usando grandes câmaras de fermentação no bucho.
O tamanho do Saichania aqui neste post foi estipulado variando entre a menor e maior medida, o mesmo foi feito para o peso do animal, pois embora Paul tenha dito que teria só 2 toneladas, o estudo recente de Arbour e Mallon (2017) sugeriu um peso de quase 8 toneladas para o Ankylosaurus, que teria aproximadamente 8 metros, pois um animal desse porte e ainda recoberto por carapaça seria bem pesado.
Transferindo esse raciocínio para o Saichania, que é um pouco menor que o anquilossauro, é lógico pensar que ele apresentasse uma massa similar, ao menos cinco toneladas, em vez de apenas duas toneladas como proposto. Sem dúvida era um bicho grande, com um crânio robusto de 45 centímetros de comprimento e 48 centímetros de largura. E falando nisso, vamos começar a entender o animal da cabeça para trás!
Embora resistente e avantajado, seu crânio deve ter sido relativamente leve para seu tamanho, pois tinha diversas passagens ocas chamadas sinus, interconectadas com os dutos respiratórios das narinas. Foram descritas várias passagens complexas dentro do crânio, também conhecidas como conchas nasais ou sistema turbinado (eu sei, esse nome é engraçado né... ) certamente capazes de auxiliar no tratamento do ar inspirado e expirado por esse animal. Essas passagens eram repletas de subdivisões e curvas que formavam um caminho complexo e não direto para o ar que entrava pelas narinas.
Inicialmente a pesquisadora que estudou o animal sugeriu que poderia haver em vida um órgão de Jacobson nesses espaços, um aparato comum em vários répteis que funciona como órgão de captação de odores. Entretanto hoje em dia não é uma hipótese tão forte.
Passagens nasais do Euoplocephalus - as do Saichania eram similares
© Witmerlab
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As rochas onde estava, preservados os fósseis são arenitos, ou seja, formadas de areia endurecida. Isso suporta a ideia de que o ambiente era árido, seco e arenoso e nesse caso ter um aparato nasal que evitasse a perda de água é fundamental. Quando respiramos o ar entra mais seco no corpo, mas dentro do pulmão ele é umedecido e ao sair, leva parte da água consigo. Se o animal vivia em um ambiente desértico, possivelmente usava esse sistema de passagens nasais para reabsorver umidade do ar quando ele voltava do pulmão. Assim o ar saía mais seco e não retirava água do corpo durante a respiração, evitando a desidratação.
Um Saichania prestes a ser atingido por uma tempestade de areia!
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Outra curiosidade é que um osso hioide foi encontrado, parcialmente preservado no esqueleto. Se você não sabe, esse osso fica na região da garganta, no fundo da boca e serve de ancoragem para músculos da língua. É um osso que raramente se preserva, uma raridade e indica que o Saichania deve ter sido capaz de usar a língua eficientemente para manipular comida dentro da boca ou quem sabe até fora da boca, usando a língua como uma ferramenta preênsil para capturar ramos e trazê-los para a boca, como uma girafa por exemplo.
Um Saichania prestes a ser atingido por uma tempestade de areia!
© Maryańska (1977)
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Deixando seu crânio de lado, ainda podemos abordar a defesa desse animal dando uma olhada no pescoço. Na maioria dos animais, essa é uma região que geralmente acaba sendo muito sensível e alvo de mordidas nos ataques de predadores. O Saichania lidava com isso tendo o que chamamos de "halfrings" cervicais. Em inglês, este termo literalmente quer dizer "meio anel", pois no pescoço do animal havia uma estrutura óssea, como se fossem placas osteodérmicas maiores interconectadas por uma faixa óssea por baixo, que formava um meio círculo sobre o pescoço. Pense numa coleira pela metade, só na parte de cima do pescoço ou até mesmo como se fosse uma "tiara" de osteodermas, mas no pescoço.
Réplica do fóssil original do Saichania ainda na matriz.
Atenção para os "meio - anéis" no pescoço, bem no meio da foto. |
O seu corpo em si, ou região pós-craniana, como se diz no linguajar paleontológico, era recoberto de placas ósseas, calombos que inclusive se espalhavam pelas pernas em alguns pontos e acreditem, até no peito e ventre, formando uma boa proteção contra choques e ataques. Realmente, mesmo sua barriga era protegida por placas endurecidas, mas há quem diga que enquanto ainda eram bebês, as placas dos anquilossaurídeos eram mais moles e só ossificavam bem com o envelhecimento, portanto a passagem para a fase adulta, é que tornavam-se totalmente rijas.
Não só a presença das placas tornava esse herbívoro um tanque de guerra biológico, mas o fato de que seu corpo era robusto e forte até mesmo para os padrões dos anquilossaurídeos! O Saichania tinha o corpo fortificado com ossificações e fusões da coluna vertebral, costelas, cintura escapular e ossos do peito, o que criava ligações entre alguns ossos, reforçando o esqueleto como um todo. Até as duas primeiras vértebras do pescoço, que normalmente estão separadas nos animais, estavam fundidas num osso só nesse dinossauro.
As costelas tinham placas ósseas que ligavam uma haste de uma costela na próxima, assim literalmente criando uma gaiola rígida para proteger os órgãos internos. E que órgãos internos esse bicho tinha! Ele era um herbívoro e plantas tendem a não gerar tantas calorias por quilo de alimento quanto carne. Então ele tinha de comer plantas duras do deserto em grande quantia para sobreviver. Com poucos e pequenos dentes, não conseguia mastigar eficientemente como um hadrossaurídeo por exemplo, então compensava isso usando grandes câmaras de fermentação no bucho.
Saichania - Olha a largura desse bicho!
© Kenneth Carpenter
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Visto de cima, o animal até ia parecer bizarramente largo, como mostra a ilustração acima. Isso tudo porque dentro dele tinha de existir muito espaço para os órgãos digerirem os alimentos. Visto de perfil ele até parece magrinho, mas não é bem o caso. E para ser realista, quase todos os anquilossaurídeos tinham um formato corporal igualmente rechonchudo.
Mas, voltando a falar de sua aparência geral, podemos dizer que este dinossauro é um dos anquilossaurídeos mais facilmente reconhecíveis, pois a configuração das placas na cabeça e corpo é bem distinta, especialmente as várias osteodermas nas patas e cabeça. Elas apresentavam quilhas com suas pontas apontando para trás ou para frente, dependendo de onde no corpo estavam.
A carapaça, que deve ter sido mais espetacular ainda durante a vida do bicho, pois geralmente espigões, chifres e afins são recobertos por uma camada queratinosa, igual ao material que forma nossas unhas, que aumenta o tamanho do espinho e ainda permite que se forme neste uma ponta mais afiada.
Essas placas ósseas eram uma boa defesa e podem até ter sido chamativas em vida, com cores mais vibrantes. Na realidade, não sabemos a cor da maioria dos dinossauros, embora estudos recentes tenham conseguido identificar os padrões de algumas espécies. O único anquilossaurídeo que teve sua cor estimada a partir de evidência fóssil foi o excepcional Borealopelta, cuja preservação é extraordinária. Mas o Saichania não preservou tecido mole que permita analisar suas cores. Só nos resta imaginar e especular que cores tal dino poderia ter.
Mas, voltando a falar de sua aparência geral, podemos dizer que este dinossauro é um dos anquilossaurídeos mais facilmente reconhecíveis, pois a configuração das placas na cabeça e corpo é bem distinta, especialmente as várias osteodermas nas patas e cabeça. Elas apresentavam quilhas com suas pontas apontando para trás ou para frente, dependendo de onde no corpo estavam.
Felipe Alves Elias |
Essas placas ósseas eram uma boa defesa e podem até ter sido chamativas em vida, com cores mais vibrantes. Na realidade, não sabemos a cor da maioria dos dinossauros, embora estudos recentes tenham conseguido identificar os padrões de algumas espécies. O único anquilossaurídeo que teve sua cor estimada a partir de evidência fóssil foi o excepcional Borealopelta, cuja preservação é extraordinária. Mas o Saichania não preservou tecido mole que permita analisar suas cores. Só nos resta imaginar e especular que cores tal dino poderia ter.
Saichania ilustrado um pouco mais colorido que o de costume
© Luis Rey
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As patas do Saichania eram curtas e fortes, dotadas de cinco dedos nas dianteiras e possivelmente três dedos nas patas traseiras. Essas pernas contribuíam para o animal ter esse aspecto atarracado e baixo visto de perfil, mas também eram fortes e estabilizavam o animal muito bem. Ele poderia facilmente abaixar-se e firmar-se no chão com a barriga tocando a terra e provavelmente predador nenhum conseguiria arrancá-lo dessa posição.
Mas esse claramente não era o único modo de lidar com predadores para o Saichania, que contava com uma cauda armada de porrete ósseo, ou clava se preferir. Sabemos isso porque o animal tem uma morfologia característica de anquilossaurídeo avançado, e todos os dinos desse grupo apresentavam essa clava óssea na cauda. Mas na prática, os fósseis que com certeza pertencem ao Saichania não preservam clava óssea.
Outros esqueletos no entanto, encontrados nos mesmos locais, mostram a parte de trás do corpo, mas faltam a parte da frente. Por isso fica difícil comparar e dizer se os esqueletos com clava são realmente do Saichania, do Tarchia ou até do Zaraapelta. Seja como for, um espécime que apresenta uma clava bem preservada é o ZPAL MgD I/113, que já foi considerado como um exemplar de Tarchia e essa cauda pode nos dar uma boa noção de como era a cauda do Saichania.
Cauda do espécime ZPAL MgD I/113
© Arbour, Currie e Badamgarav (2014) |
Sem dúvida alguma, não seria uma boa ideia mexer com esse dinossauro, ele poderia ser um herbívoro pacífico, mas ninguém que anda por aí com uma couraça blindada e uma clava óssea poderosa na cauda vai levar desaforo para casa. Certamente um predador descuidado e imprudente poderia sair de um embate com o Saichania com um ferimento fatal. Mas há quem diga que embora fosse arriscado, predadores atacavam sim esses dinos couraçados, inclusive havendo evidências disso em um fóssil. Aquele crânio que hoje é considerado um Tarchia (PIN 3142/250) apresenta uma perfuração em forma do dente de um Tarbosaurus, um tiranossaurídeo grande do Gobi. Essa perfuração tinha sido cicatrizada, ou seja, o animal batalhou, foi ferido, mas escapou vivo e permaneceu assim tempo suficiente para que o osso cicatrizasse.
Saichania em vida © Yuriy Priyma |
Na Mongólia do cretáceo o clima era seco e quente, mas mesmo assim o lugar abrigava espécies diversas, inclusive predadores como o Tarbosaurus foram encontrados no mesmo lugar que viveu o Saichania, na formação Nemegt. A sua couraça desencorajava ataques de predadores que preferiam buscar outra presa, mas em épocas de comida escassa alguns carnívoros desesperados e imprudentes atacavam e neste caso o Saichania apelava para sua arma para golpear o inimigo, podendo até quebrar a perna e estourar órgãos internos do atacante. A cauda era reforçada por tendões ossificados com as últimas vértebras fusionadas, que endureciam a ponta da cauda, tornando-a firme, como se fosse um cabo de martelo para sustentar a clava, formada por 3 placas ósseas mais grossas. Só a base da cauda era flexível e podia ser curvada.
Mas apesar desses predadores inconvenientes, outros vizinhos do Saichania eram menos incômodos, como os pequenos pequenos herbívoros que viviam na Formação Barun Goyot, que incluíam Lamaceratops, Bagaceratops e Tylocephale. Nessa mesma formação foi encontrado um dinossauro velociraptoríneo, mas embora ele seja muito parecido com o Velociraptor, não podemos assumir que era um, pois o fóssil ainda não foi oficialmente descrito.
Esqueleto do Saichania
© Takashi APD
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O Saichania atualmente não é um dinossauro tão famoso, só de vez em quando é retratado na mídia. No documentário da BBC exibido no Brasil com o título Batalha dos Dinossauros (The Truth about the Killer Dinosaurs), o Velociraptor aparece caçando um anquilossaurídeo no deserto, que muita gente inicialmente pensou ser um Saichania. Mas dado que o animal viveu com o Velociraptor, é mais provável que ele represente um Pinacosaurus. No mesmo documentário esse anquilossaurídeo aparece batalhando um Tarbosaurus.
O suposto Saichania tá mais pra um Pinacosaurus
© BBC
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O suposto Saichania tá mais pra um Pinacosaurus © BBC |
Uma das aparições mais famosas desse animal é em forma de desenho animado no anime "Dinossauro Rei" produzido no Japão. Ele foi retratado de forma relativamente correta embora com cores bem berrantes.
Saichania de Dinossauro Rei © Sunrise |
No quesito de colecionáveis a coisa não é muito melhor. Alguns modelos em forma de brinquedos existem, embora nenhum realmente faça jus à sua real anatomia. A empresa alemã Schleich já fez várias versões do animal em miniatura, o que chega a exaltar um grande erro dessa empresa, que é só produzir as mesmas espécies de dinossauro repetidamente, nunca escolhendo novas espécies.
Saichania Schleich - Jr. Series Schleich |
Saichania da empresa Schleich lançado em 1996 Schleichanimobil.info |
Saichania da empresa Schleich lançado em 2009
Schleich
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Saichania da empresa Schleich mais recente
Schleich
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Mini Saichania da empresa Schleich
Schleich |
Mini Saichania Schleich - talvez a melhor de todas até o momento
Schleich
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Em 2001 a editora Salvat publicou uma coleção de fascículos de dinossauros, sendo o fascículo número 12 focado neste dinossauro. Este fascículo você não pode mais encontrar nas lojas, mas eu digitalizei o meu, parte de minha coleção particular e você pode fazer o download clicando aqui. Junto com o fascículo vinha um boneco do Saichania, praticamente copiado do modelo da Schleich da época, mas que para o mercado brasileiro foi bom, afinal não se acha miniaturas deste dino por aqui.
A empresa Kaiyodo produziu uma versão do Saichania para a coleção Dinomania ou Dinotales. Outra marca que fez o Saichania foi a Sega, para a coleção oficial do desenho Dinossauro Rei. Ainda falando de marcas asiáticas, a Happinet produziu sua versão e o Kanna Dinosaur Center também lançou sua interpretação do Saichania.
Saichania Kaiyodo
eBay
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Saichania Sega - Dinossauro Rei
Patrick Król Padilha
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Saichania Happinet
Happinet
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A empresa Dinostoreus produziu um modelo de luxo do esqueleto do Saichania, não é um brinquedo, mas sim um colecionável de alto nível e também com custo mais elevado. Feito em resina é montado em uma base requintada para dar um ar de museu à peça.
Esqueleto do Saichania em miniatura DinoStoreus, Inc. |
Enfim, é isso que eu tenho pra contar do dinossauro Saichania no momento, se novidades surgirem, novas pesquisas ou algo na cultura popular, farei questão de atualizar o post. Se você ficou curioso com as miniaturas e gostaria de ter um modelo de Saichania na sua coleção, acesse a Dinoloja e veja se temos algum disponível! Se não tivermos, podemos encomendar qual desejar, faça seu orçamento no site, www.dinoloja.com.
- Maryańska, T. (1977). "Ankylosauridae (Dinosauria) from Mongolia". Palaeontologia Polonica. 37: 85–151.
- Penkalski, P., Tumanova, T., The cranial morphology and taxonomic status of Tarchia (Dinosauria: Ankylosauridae) from the Upper Cretaceous of Mongolia, Cretaceous Research (2016), doi: 10.1016/j.cretres.2016.10.004.
- Arbour, V. M., Currue, P. J. & Badamgarav, D. The ankylosaurid dinosaurs of the Upper Cretaceous Baruungoyot and Nemegt formations of Mongolia. The Linnean Society of London, Zoological Journal of the Linnean Society, 2014, 172, 631–652. doi: 10.1111/zoj.12185
- Miyashita, T., Arbour, V. M., Witmer, L. M. and Currie, P. J. (2011), The internal cranial morphology of an armoured dinosaur Euoplocephalus corroborated by X-ray computed tomographic reconstruction. Journal of Anatomy, 219: 661–675. doi:10.1111/j.1469-7580.2011.01427.x
- Victoria M. Arbour, Nicolai L. Lech-Hernes, Tom E. Guldberg, Jørn H. Hurum, and Philip J. Currie. An ankylosaurid dinosaur from Mongolia with in situ armour and keratinous scale impressions. Acta Palaeontologica Polonica 58 (1), 2013: 55-64 doi: http://dx.doi.org/10.4202/app.2011.008
- Know Your Ankylosaurs: Mongolia Edition - Pseudocephalus, blog da paleontóloga Victoria Arbour
- Wikipedia - The Free Enciclopedia
- Britisih Museum of Natural History - Dino Directory
- Gondwana Studios
- DVD Dinos Assassinos - Editora Abril (Versão brasileira de The Truth About the Killer Dinosaurs)
1 comentários :
no episódio de Batalhas de dinossauro, o anquilossaurídeo também podia ser o pinacossauro
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