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terça-feira, 5 de novembro de 2013

O Mistério do Deinocheirus chega ao fim

© Adaptado de ilustração de Vitor Silva
Se você é como eu, um verdadeiro apaixonado por dinossauros que lê tudo que encontra pela frente sobre o assunto, provavelmente já deve ter ouvido falar do famoso dinossauro Deinocheirus. Esse dinossauro foi descoberto em 1965 na Mongólia, precisamente no Deserto de Góbi. Porém tudo o que foi recuperado do seu esqueleto foram alguns pedacinhos de ossos e seus braços. Mas que braços! Cada um mede, com a mão incluída, 2,5 metros de comprimento. Imagine o tamanho do bicho se estivesse inteiro! A precariedade dos poucos fósseis achados e a falta do resto do esqueleto levou paleontólogos à diversas conclusões diferentes, uns retratando o bicho de uma forma, enquanto outros retratavam de outra. Com tudo isso, criou-se uma aura de mistério em torno desse dinossauro, mistério este que chega ao fim com a descoberta de novos fósseis bem mais completos que revelam muito sobre a aparência do bicho, inclusive com uma surpresa inesperada. Leia o resto da matéria e conheça a verdadeira aparência do dinossauro mais misterioso de todos!

Os novos fósseis foram achados em 2006 e 2009 em sítios diferentes do original e estão bem mais preservados ao que tudo indica. Alguns anos atrás paleontólogos retornaram ao sítio original onde os fósseis dos braços gigantes foram descobertos, porém só encontraram algumas partes da gastrália, costelas situadas na região da barriga, todas trituradas, indicando que possivelmente aquele indivíduo tinha sido predado, talvez até por um Tarbossauro, o maior predador da região e possivelmente o único capaz de derrubar um Deinocheirus.
Os novos fósseis indicam um animal de praticamente 11 metros de comprimento e quase 5 metros de altura, fazendo dele o dinossauro terópode mais alto de todos. As primeiras reconstruções desse dinossauro se basearam no fato de suas mãos estarem equipadas com garras curvas poderosas de até 25 centímetros cada, levando pesquisadores a especular que ele fosse um predador, um tipo de raptor gigantesco. Isso se reflete na paleoarte, sendo possível até encontrar desenhos dele como um assassino sanguinário caçando outros dinossauros da região.
Braços do Deinocheirus
© Gondwana Studios
Mas como sempre acontece na paleontologia, geralmente a coisa não é tão simples quanto parece e aparências inferidas com julgamentos preliminares baseados em fósseis muito fragmentados resultam em falsos animais. Não estou dizendo que simplesmente inventam um dinossauro do nada, mas o pesquisador muitas vezes se obriga a "adivinhar" com base nos dados e evidências presentes e em grande parte dos casos o resultado da adivinhação está um pouco distante da realidade.
Com o tempo, análises mais cuidadosas levaram alguns paleontólogos a propor que o Deinocheirus mirificus (o nome significa "Terríveis Mãos Peculiares") era na verdade um tipo de Ornitomimossaurídeo, parte de um grupo de dinossauros onívoros portadores de um bico e possivelmente muito parecidos com as Avestruzes atuais, daí o apelido dado ao grupo, "Dinossauros Avestruz".
Apesar de que os fósseis recentemente anunciados comprovarem a teoria de que realmente esse dinossauro deve ter pertencido ao grupo dos "Dinos Avestruz", os novos ossos trazem novidades realmente surpreendentes.
Infelizmente o crânio não foi achado, nem os pés, mas pode-se calcular uma aparência provável se baseando nos parentes mais próximos já descobertos. O que deixou a maioria dos pesquisadores e interessados em geral espantados é o fato de o dinossauro ter possuído, muito possivelmente, uma vela nas costas! Isso mesmo, um Ornitomimossaurídeo com vela nas costas! 
Já conhecíamos muitos dinossauros de outros grupos que supostamente possuíram velas, como o Spinosaurus e vários de seu grupo, o Ouranosaurus entre outros. Mas ninguém jamais suspeitou que tal característica houvesse se desenvolvido em um dinossauro do grupo a que pertence o Deinocheirus. A característica pode ser observada porque as vértebras do dinossauro possuem espinhas neurais alongadas e finas que se projetam pra cima.
Agora imaginem um dinossauro gigante, de 11 metros de comprimento, possivelmente emplumado, com um pescoço meio longo e braços avantajados, com uma vela ou corcova nas costas, comendo plantas e talvez pequenos animais. Sua cara é desconhecida, mas há grandes chances de que possuísse um bico desdentado também, como seus parentes.
Esse é realmente o Deinocheirus que há mais de 50 anos intrigava paleontólogos mundo afora e que agora podemos conhecer de fato, com muito mais precisão. Isso só prova que a ciência da paleontologia é lenta, porém persistente e o que hoje pode estar incompleto e incompreensível pode ser desvendado amanhã. Os fósseis foram descobertos também na Mongólia por uma equipe internacional de pesquisadores e há pistas de que o sítio do fóssil já havia sido invadido e explorado anteriormente por contrabandistas de fósseis. Há um rumor de que um crânio possivelmente de um Deinocheirus teria sido achado e vendido no mercado negro, indo parar num museu europeu ilegalmente, uma vez que fósseis da Mongólia não podem ser vendidos como diz a lei do país.
É possível que em breve saibamos mais detalhes ainda sobre o dinossauro, porque essas informações aqui apresentadas foram dadas em uma palestra no encontro desse ano da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados, uma das entidades mais respeitadas mundialmente no que se trata de dinossauros. Como sabemos, fósseis devem ser propriamente estudados e descritos em um artigo científico oficial que passa por avaliação rigorosa de outros pesquisadores antes de ser publicado. Esse artigo sobre os novos achados desse dino ainda não saiu e por isso pode ser que venha mais novidade ainda sobre o comportamento e características gerais desse dinossauro. Ao que tudo indica, o formato real da vela ou corcova é diferente do que muita gente retratou. Pelo menos pela descrição dada pelo renomado paleontólogo Thomas Holtz via Facebook, que viu a apresentação de perto, a vela começa nas vértebras dorsais posteriores e é bem alta acima da pélvis, então despenca em direção à cauda. Confira abaixo algumas reconstruções recentes baseadas na nova descrição do Deinocheirus e aguarde novidades!
Deinocheirus
© Chris Masna

Deinocheirus© Vitor Silva
Deinocheirus© Hayley R. Rowland
Deinocheirus tomando sol© Hyrotrioskjan


3 comentários :

Flávio disse...

Eu nunca imaginei ou imaginaria que o Deinocheirus tivesse uma vela ou corcova. Pelo que eu li, esta estrutura se assemelha muito com aquela do Concavenator. O legal mesmo seria saber o motivo destas estruturas nesse e em outros dinossauros...

Unknown disse...

cada vez a mongolia nos surpreende com suas descobertas !

Unknown disse...

Nossa está brincando, eu por muito tempo acreditava, que o deinocheirus, era carnívoro agora vem essa bomba que ele era onivoro, .