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domingo, 23 de março de 2008

Oviraptor

Arte de Brasílio Matsumoto
© Nestlé/6B Estúdio?

Veja quando viveu o Oviraptor© Patrick Król Padilha
Durante a famosa expedição de 1922 - 1924 de Roy Chapman Andrews ao Deserto de Gobi - Mongólia, financiada pelo Museu Americano de História Natural, foi descoberto um ninho com vários ovos e ao lado deste um esqueleto parcial de um terópode pequeno, cujo crânio estava esmagado. O achado ocorreu exatamente em 1923, sendo que os fósseis foram encontrados por George Olsen. Depois de recolhidos os fósseis, o pesquisador Henry Fairfield Osborn ficou responsável por estudar os restos e nomear o animal.
© Jaime A. Headden
Mesmo que o crânio estivesse fragmentado, a rocha que o preservou marcou a forma da cabeça, então os estudiosos observaram que o animal tinha um crânio estranho, em vez de uma boca comum, ele possuía um bico córneo que se estendia nas mandíbulas superior e inferior e possivelmente no palato superior (céu da boca), formando apenas dois dentículos pontiagudos no meio do palato, enquanto que as mandíbulas eram desdentadas. Este bico é chamado de rhamphotheca pelos paleontólogos. Outro fator estranho é que o palato duro superior se estende abaixo da linha da mandíbula, o que não ocorre nos outros Terópodes.
A Estranha cabeça do Oviraptor
Então os paleontologistas imaginaram que o bico e os dentes não seriam úteis para caçar animais grandes e sim para quebrar cascas de ovos, por isto, propuseram que o animal morreu enquanto tentava roubar ovos do ninho, para se alimentar, porém inesperadamente o dono do ninho, supostamente um Protoceratops, o atacou e esmagou seu crânio com um golpe, deixando-o ao lado do ninho, que logo seria soterrado por areia junto com o esqueleto, que aos poucos se transformariam em fósseis.
Com esta ideia em mente, os pesquisadores nomearam o animal como Oviraptor, que provém do Latim, Ovi = Ovos + Raptor = Ladrão, ou seja, Ladrão de Ovos. O seu segundo nome, philoceratops, também tem origem da relação do terópode com os ovos, pois significa "Amante de Ceratopsianos", indicando que teria preferência por ovos deste tipo de animal.
No artigo publicado por Osborn em 1924, estava a explicação de que este nome foi dado pela proximidade entre o crânio do Oviraptor e o ninho, pois estavam separados por somente 10 centímetros de areia. No entanto, Osborn também sugeriu que o nome pode causar enganos sobre os hábitos alimentares do animal e esconder sua verdadeira natureza.
Cabeça de um Oviraptor como descrito pela primeira vez
© Fábio Pastori
Esta suposição de Osborn estava certa e foi provada na década de 1990, com a descoberta de um ninho de oviraptorídeo em 1993, com o esqueleto do adulto pousado sobre os ovos, em posição de chocar os ovos e protegê-los, então isto indica que provavelmente os ovos não eram de um Protoceratops e sim do próprio Oviraptor, que estava chocando a ninhada.

Oviraptor sobre seu ninho
© Baseado em Norell et al. (1995)Fóssil de Oviraptorídeo sobre o ninho com ovos© Clark, Norell e Chiappe (1999)
Sabemos que este animal estava cuidando dos ovos porque ele está sobre o ninho com a pose exatamente igual à das aves ao chocar ovos, além de que não há sinais de perturbação, de que os ovos foram remexidos ou atacados. Vários fósseis encontrados demonstram um mesmo padrão, o que refuta a ideia de que pode ser coincidência.
O Oviraptor foi encontrado em rochas que datam do período Cretáceo, para ser mais preciso, no final da idade Campaniana, cerca de 75 milhões de anos atrás e somente uma espécie conhecida é válida, da qual se conhecem ossos e ovos. Os fósseis estavam localizados na Formação Djadokhta na Mongólia, porém um outro possível exemplar da espécie foi achado da região nordeste da Mongólia Interior, que fica dentro da China, em uma área chamada Bayan Mandahu.
Oviraptor philoceratops
© Joe Tucciarone
O fóssil deste animal não está completo, porém os ovos, cerca de 15 deles, encontrados junto aos ossos compensam a falta de alguns ossos. O espécime parcial foi numerado como AMNH 6517 e o conjunto de ovos receberam a marcação AMNH 6508. A sigla que antecede o número da peça é a do museu ou instituição a que pertence o fóssil, neste caso o "American Museum of Natural History" (Museu Americano de História Natural), que fica nos Estados Unidos.
Em vida o Oviraptor deve ter sido parecido com uma ave, apesar de não ser um dinossauro aviano, pois tem vários detalhes morfológicos em comum com as aves, como a caixa torácica, que é formada por costelas com certas adaptações que tornam o tórax mais rígido, característica comum nas aves atuais. Ele também tinha a clavícula, mais uma característica das aves.
Oviraptor sobre seus ovos, chocando-os como uma ave
© DBA Kokoro Dinosaurs
Outra versão do animal sobre o ninho
© Julius T. Csotonyi
Provavelmente este dinossauro, além de cuidar dos ovos, cuidava dos filhotes, protegendo-os dos predadores, ensinando-os a sobreviver sozinhos e alimentando a prole ainda nos primeiros dias de vida.
Oviraptor alimentando filhotes como uma ave atual
©
Luis Rey
Um parente do Oviraptor, chamado Nomingia, é outro dinossauro que tem alguns aspectos que lembram aves. Neste caso, o Nomingia tem o pigóstilo, que é a fusão das últimas vértebras da cauda que formam um único osso que serve de apoio para sustentar uma cauda com penas e para poder movê-la com mais facilidade, como ocorre com pássaros atualmente. Outros parentes da família Oviraptoridae, como Caudipteryx e Protarchaeopteryx, tiveram marcas de penas preservadas nos fósseis, incluindo braços com penas parecendo asas e caudas com penas formando quase que um espanador ou uma espécie de abanador.
A posição dos animais encontrados sobre ovos, nos ninhos, indica que eles usavam as "asas" para cobrir os ovos e aquecê-los. Partindo das características dos parentes do Oviraptor, os paleontólogos acreditam que estes comportamentos e atributos físicos poderiam se aplicar ao "Ladrão de Ovos", pois ele tem um parentesco muito forte com estes animais e uma grande semilaridade anatômica.

Oviraptor emplumado
© Melissa Frankford

A maioria das reconstruções do Oviraptor o retratam com uma crista proeminente como a do Casuar, um pássaro atual, porém os fósseis foram estudados novamente e os cientistas acreditam que os animais bem conservados e com cristas altas pertencem na verdade ao gênero Citipati.
Não se pode negar que o Oviraptor tinha uma crista, mas o único fóssil do animal tem o crânio esmagado, o que dificulta uma descrição exata do tamanho e forma da crista. A vantagem que os paleontólogos tiveram, é que o crânio do primeiro fóssil, de 1923, estava preservado em um nódulo de arenito, que é rocha formada de areia, que preservou a forma da disposição dos osso do crânio, permitindo uma melhor reconstrução. Provavelmente a crista seria mais arredondada e mais alta que os demais oviraptorídeos e não seria tão voltada para frente. A ilustração abaixo compara 5 crânios, um do Oviraptor, um do Ingenia, e 3 diferentes crânios atribuídos a Citipati. Clique na imagem ou abra-a em uma nova janela/aba para visualizar melhor os nomes.
Comparação de crânios de Oviraptorídeos© Autor desconhecido
Favor informar se souber o nome do artista
Talvez a crista servisse de dimorfismo sexual, sendo que machos teriam cristas maiores, fêmeas as teriam menores. Pode ser também que cristas menores signifiquem animais jovens e menos desenvolvidos do que os de cristas grandes. Não há como garantir, mas pode ser que a crista tenha sido colorida, pelo menos nos machos.
Depois de descrito, o animal foi classificado originalmente por Osborn como um Ornitomimídeo, ou seja, na família do Ornithomimus, devido ao bico desdentado. Somente em 1976, Barsbold criou a a família Oviraptoridae, para inserir o animal descrito e alguns animais relacionados.
Nos anos que se seguiram, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, novos animais desta família foram descobertos e adicionados ao grupo.
Hoje a classificação do O. philoceratops está da seguinte maneira: Saurischia >Theropoda > Tetanurae > Coelurosauria > Maniraptora > Oviraptorosauria > Oviraptoridae .
Como o nome sugere, primeiramente acreditava-se que este terópode comia somente ovos, ideia já explicada anteriormente.
Em 1977, Barsbold trouxe a hipótese de que este dinossauro poderia comer moluscos ou crustáceos em vez de ovos, porque haviam encontrado conchas de moluscos nas mesmas rochas em que foi encontrado o Oviraptor. Seu bico teria força e resistência suficiente para quebrar as conchas dos moluscos e crustáceos que viviam naquela época.
Oviraptor com crista e crânio na versão mais atual comendo crustáceos© Wayne Barlowe
No entanto nada impede que este dinossauro tenha se alimentado de animais maiores que moluscos, porém não passariam de vertebrados pequenos, como lagartos e filhotes de outros dinossauros, como podemos ver na seguinte ilustração.
Oviraptor comendo lagarto
©
Todd MarshallOviraptor perseguindo um pequeno roedor
© Raul Martín

O comportamento do Oviraptor ainda é desconhecido, mas pode-se imaginar como agia em vida, vivendo talvez em bandos dominados por um macho.

Oviraptores convivendo em grupos sociais
© Discovery Channel
O "Discovery Channel" fez no seu documentário uma representação da vida deste dinossauro, vivendo em bandos, onde machos competem por liderança e pelas fêmeas do bando.
Machos se enfrentam com gritos e gestos ameaçadores
© Discovery Channel
No documentário, o animal é representado emplumado como muitos paleontólogos acreditam que fosse, porém o crânio ainda se parece o do Citipati. No filme ele é um pai carinhoso, cuida dos filhotes, porém a ideia de que roubava ovos não é descartada. Ele rouba alguns filhotes de dinossauros também, inclusive do Velociraptor, que é pouco menor que ele em tamanho e fica em desvantagem para lutar.
Fêmeas cuidam dos filhotes
© Discovery Channel
No entanto, filhotes do Oviraptor e seus ovos também serviam de comida a outros dinossauros e animais da época, ou seja, o "Ladrão de Ovos" também era vítima de assaltos aos ninhos. Abaixo um ninho com os filhotes desprotegidos, prontos para serem devorados.
Filhotes no ninho
© Discovery Channel
Na cena seguinte, vemos um réptil, um pequeno crocodilomorfo, roubando ovos de um ninho, mesmo com a presença dos pais por perto. Na mesma imagem o artista retratou o modo como morreu e ficou preservado o dinossauro sobre o ninho, neste caso com uma tempestade de areia ao fundo, que é uma das hipóteses para explicar porque o animal morreu sobre os ovos.
Réptil roubando ovo dos Oviraptors
© Luis Rey
Graças a todas estas características, este dinossauro tornou-se famoso, sendo retratado em diversos filmes, como Dinossauro, da Disney e o documentário do Discovery Channel chamado Dino Planet. Jogos de vídeo game como Dino Crisis 2 e Dino Stalker também mostram o animal, incorretamente, pois cospe veneno, capacidade fictícia copiada do Dilophosaurus de Jurassic Park. Além disto livros ficcionais como "Dinotopia", ou livros educativos mostram sempre este animal, como também existem diversos brinquedos dele. No entanto, o animal foi mostrado com um corpo baseado nos fósseis que hoje pertencem ao Citipati, ou seja, sua aparência pode estar incorreta. Existem diversos brinquedos também, que retratam este dinossauro, como o Oviraptor sobre o ninho, da Safari Ltd. e as duas versões do mesmo animal da coleção Carnegie. Temos ainda um embrião de Oviraptor ainda no ovo, feito também pela Safari. O mais recente modelo foi posto à venda em 2010 pela Papo. Altamente detalhado, ele é belo, porém cientificamente incorreto.
Oviraptor Carnegie 2005© Safari Ltd.Oviraptor Carnegie 2007
© Safari Ltd.Oviraptor no ovo - Coleção Dino Discoveries© Safari Ltd.Oviraptor sobre o Ninho - Coleção Dino Discoveries
©
Safari Ltd.
Oviraptor Papo
©
Papo
No Brasil foi lançado em 1993 pela empresa de alimentos Nestlé, a Coleção Dinossauros, composta de cartões que acompanhavam o Chocolate Surpresa. O cartão número 17 é o do Oviraptor, também retratado com o crânio do Citipati, mas nem por isso deixa de ser uma bela reconstrução, com lindas cores.

Fontes:

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