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sábado, 5 de abril de 2008

Anatotitan

Anatotitan copei
© Eduardo (Karkemish00) Esqueleto de Anatosaurus:não encontrei um especificamente do Anatotitan
© Oyvind M. Padron

Nome científico: Anatotitan copei e Anatotitan longiceps.
Significado do Nome: Pato Gigante ou Grande Pato.
Tamanho: 12 metros de comprimento e 4 metros de altura.
Peso: 4 toneladas.
Alimentação: herbívora.
Período: Cretáceo.
Local: Estados Unidos e Canadá - América do Norte.


Clique no mapa e veja onde acharam o Anatotitan!
© Mapa modificado por Patrick Król PadilhaVeja quando viveu o Anatotitan!
© Patrick Król Padilha
O Anatotitan é um dinossauro bem interessante, mas que poucos conhecem a fundo devido à sua baixa popularidade na mídia em geral. Mas com esta postagem espero que possam compreender melhor a história deste dino, como e onde foi descoberto, porque tem este nome e como era em vida, além de uma ou outra curiosidade que eu descobri a respeito.
Começarei pelo começo, ou seja, pela descoberta do primeiro esqueleto deste bicho tão diferente e ao mesmo tempo belo, gracioso, que foi encontrado e coletado primeiramente em 1882 por dois homens, o Dr. J. L. Wortman junto com R. S. Hill, que estavam trabalhando como coletores de fósseis, pois haviam sido contratados por Edward Drinker Cope.
Naquela época, a "Guerra dos Ossos" estava ocorrendo na América e Cope e seu rival O. C. Marsh começaram a usar seu dinheiro e influência para contratar coletores de fósseis, cuja tarefa era encontrar os ossos, escavar e enviar ao patrão que o descreveria, tudo em segredo para não chamar a atenção dos rivais.
Wortman e Hill encontraram o esqueleto do Anatotitan nas rochas da famosa Formação Hell Creek, no nordeste da região conhecida como Black Hills no estado de Dakota do Sul, nos Estados Unidos.
Um fato interessante é que este espécime preservou-se por mumificação, preservando grande parte da pele do animal em forma de impressões perfeitas na rocha, mas em contra partida, outras partes faltavam no esqueleto, como uma grande porção da pélvis e parte da área do torso, talvez resultado da erosão causada no fóssil pelo curso do rio que ali passava.
© Josep Zacarias

O indivíduo encontrado ainda apresentava o bico córneo e o mais impressionante, com impressões de camadas de queratina que deveria revestir o bico do animal em vida, como ocorre com chifres. Para quem não sabe, queratina é a substância que forma nossas unhas, recobre o osso de chifres e garras nos animais e está presente em outras partes do corpo. Além disso era possível notar que a mandíbula superior e inferior apresentavam marcas que eram onde se prendiam os dentes do bicho.
O primeiro nome que o esqueleto recebeu, dado por E. D. Cope enquanto descrevia-o, foi Diclonius mirabilis, uma mistura de dois nomes já existentes, que eram Trachodon mirabilis, criado por Joseph Leidy com base em dentes de um dinossauro e outro nome era Diclonius, também baseado em dentes de hadrossauro, mas desta ver criado pelo próprio Cope.

Cope pensou que Leidy não interessava-se em manter o nome Trachodon, que havia abandona-o e por isso o usou em seu novo dinossauro. Leidy admitiu que seu Trachodon era baseado em fósseis de mais de um tipo de dinossauro e que isto era errado, portanto ele revisou o gênero, mas não publicou nada formalmente e por isso não poderia afirmar nada sobre o nome Trachodon ou mantê-lo como sendo do seu dinossauro.
Posteriormente o fóssil daquele dinossauro foi comprado pelo Museu Americano de História Natural em 1899 e ganhou a numeração AMNH 5730. Atualmente este espécime é considerado o holótipo de Anatotitan copei. A sigla indica o nome do museu onde está o fóssil (American Museum of Natural History) e o número provavelmente é o número da peça na coleção de fósseis do museu e holótipo é o termo que indica qual exemplar foi usado para criar o gênero a que a espécie é atribuída. Cope pretendia descrever o esqueleto assim como o crânio, mas seu estudo prometido nunca foi publicado.
Reconstrução do Trachodon feita na época © Charles R. Knight

Mas como já sabemos, naquela época houve a "Bone War" (Guerra dos Ossos), um tipo de competição entre os mais famosos coletores de fósseis para ver quem descrevia mais dinossauros. Cope era um dos grandes nomes, e seu maior e principal concorrente, era Othniel Charles Marsh.
Marsh também aparece na história da descoberta do Anatotitan, pois em 1889, na Formação Lance, John Bell Hatcher coletou uma mandíbula inferior do hadrossaurídeo em rochas do Condado de Niobrara, estado do Wyoming - Estados Unidos.
Hatcher que trabalhava para Marsh, entregou-lhe o fóssil que foi descrito como sendo de um animal que ele nomeou de Trachodon longiceps e que hoje é catalogado com o número YPM 626.
Os pesquisadores Lull e Wright observaram que havia semelhanças entre o exemplar de Cope e o de Marsh, pois ambos tinha uma espécie de saliência ou aresta atravessando toda a mandíbula, porém haviam diferenças de tamanho entre os exemplares. O de Marsh era bem maior, medindo cerca de 110 centímetros de comprimento enquanto o de Cope media apenas 92 centímetros.
Mas mesmo com o achado de Marsh, ainda havia pouco material fóssil de Anatotitan para estudo até que um novo fóssil foi achado, desta vez um esqueleto mais completo que foi descoberto em 1904 em Montana, nas rochas de um local chamado Crooked Creek, parte da Formação Hell Creek.
O descobridor foi Oscar Hunter, um fazendeiro local, que junto com um companheiro acabaram topando com ossos parcialmente expostos na rocha e intrigados, começaram a debater se eram restos de um animal recente ou se era mesmo um esqueleto petrificado.
Hunter resolveu testar a consistência do objeto, chutando o topo de uma vértebra e constatou que eram frágeis, quebravam facilmente, um ato que depois chegou ao conhecimento do paleontólogo Barnum Brown e que foi fortemente condenado, lamentado, afinal, não se deve quebrar um fóssil principalmente chutando o mesmo.
Hunter vendeu o fóssil a Alfred Sensiba, outro vaqueiro da região, que por sua vez revendeu o fóssil a Brown, que o escavou e o levou ao Museu Americano de História Natural em 1906, de onde não saiu até hoje, recebendo a marcação AMNH 5886.
A coluna vertebral deste exemplar estava quase completa e baseando-se nesta os cientistas puderam restaurar o Trachodon de Cope, que estava incompleto. Em 1907 foi criada uma exibição dos esqueletos no museu, com os dois exemplares lado a lado, sendo ambos nomeados como Trachodon mirabilis, ganhando muita notabilidade.
O Trachodon de Cope foi montado apoiado em quatro patas, com a cabeça baixa como se estivesse comendo plantas baixas, porque o crânio deste estava bem mais preservado, enquanto o indivíduo descrito por Brown foi posto apenas em duas pernas, com o crânio situado no alto, onde defeitos, como fraturas ou imperfeições não eram notadas facilmente.
O famoso Henry Fairfield Osborn, que nomeou o T.rex, descreveu a montagem como a representação de dois Trachodons comendo em um pântano, com um deles em pose de alerta frente à aproximação de um Tiranossauro rex. Foram adicionadas impressões de plantas e conchas na base onde estavam os esqueletos, baseados em fósseis de plantas como ginkgos, pinhas de sequóia e cavalinhas.
Os esqueletos no Museu Americano de História Natural
© Claire Houck

A classificação de um dinossauro permite que os cientistas tracem uma linha evolutiva do animal, sua árvore genealógica e ainda permite compreender muito sobre a relação do animal com seus parentes. A história taxonômica do Anatotitan não é fácil de compreender ou breve, mas vou tentar esclarecer um pouco a situação. Como podem perceber, diversas vezes escrevi Trachodon na postagem me referindo ao Anatotitan, porque era esse seu primeiro nome.
O problema em definir uma classificação exata para um animal é que muitas vezes diferentes cientistas tem diferentes pontos de vista a respeito de uma característica do animal que pode ser bem importante para definir sua classificação e isso só piora quando os animais são extintos, como dinossauros e seus fósseis não foram bem preservados.
Devido à falta de material fóssil completo de diversas espécies de hadrossauros, John Bell Hatcher realizou um estudo em 1902 agrupando a maioria deles, que tinha muito pouco fóssil conhecido, em um único gênero, para "facilitar" a classificação e o gênero Trachodon, que era o mais bem conhecido, recebeu a adição de diversos espécimes, entre eles Claorhynchus e até um dinossauro chamado Polyonax, que hoje acredita-se ter sido um dino de chifres.
Além destes, foram renomeados para Trachodon os Cionodon, Diclonius, Hadrosaurus, Ornithotarsus, Pteropelyx, Thespesius e ainda uma espécie nomeada por Marsh em 1892 como Claosaurus annectens.
Hatcher considerou que o Claosaurus de Marsh era a mesma espécie que Diclonius mirabilis, proposta por Cope, com pequenas diferenças. Esse acordo de nova classificação durou por algum tempo, até que por volta de 1910 encontrou-se novos fósseis no Canadá e em Montana, mas espécies novas e bem variadas, algo que já se imaginava, e que agora colocava a proposta de unificação do gênero dos hadrossauros em maus lençóis.

Charles W. Gilmore reavaliou a classificação dos hadrossauros em 1915 e recomendou que o Thespesius, naquele período atribuído ao gênero Trachodon de acordo com o estudo de Hatcher, fosse separado do gênero, pois era um hadrossauro das rochas da Formação Lance, e segundo ele o grupo dos hadrossauros deveria agrupar apenas os hadrossauros das formações rochosas mais velhas do Judith River. Além disto Gilmore percebeu que o gênero Trachodon era baseado em material inadequado e a partir daí deixaram de lado a classificação única de todos os dinos bico de pato e a diversidade de espécies que antes existia voltou a ser usada e nomes como Trachodon mirabilis, Trachodon annectens, claosaurus e Thespesius voltavam a ter validade.
Esta verdadeira anarquia taxonômica foi temporariamente resolvida em 1942 por dois cientistas, Richard Swann Lull e Nelda Wright, cuja publicação era uma monografia sobre os hadrossauros da América do Norte, continha uma organização taxonômica dos dinossauros bico de pato do Museu Americano e de outras espécies em um novo nome genérico.
O nome escolhido foi Anatosaurus, que significa "Pato Lagarto" ou "Lagarto Pato" como preferir, e usaram o exemplar de Marsh como espécime holótipo, denominando-o Anatosaurus annectens.

Neste gênero eles colocaram o Trachodon longiceps, o Diclonius mirabilis descrito por Cope e duas outras espécies antes incluídas no gênero Thespesius como um "Hadrossaurídeo da Formação Lance", sendo esta uma proposta de Gilmore. Estas duas espécies acabaram recebendo os nomes Thespesius edmontoni em 1924 nomeado por Gilmore e Thespesius saskatchewanensis em 1926, descrito por Charles M. Sternberg.
Mas Lull e Wright complicaram a coisa ao decidir tirar os espécimes do Museu Americano de dois gêneros, porque não havia nenhuma prova suficientemente convincente para classificar tais animais no gênero Diclonius e nem no gênero Trachodon. Os fósseis ficaram sem um nome oficial, então Lull e Wright os nomearam como espécimes do novo gênero, Anatosaurus copei, sendo que o nome da espécie foi uma homenagem a Cope.
O espécime que originalmente foi descrito por Cope, de número AMNH 5730, foi usado como holótipo da espécie, com o exemplar de Brown, AMNH 5886, sendo o plesiotipo, e assim ficou o gênero, com somente estes dois exemplares conhecidos.
Só na década de 1970 e 1980 é que a confusão taxonômica foi desfeita, com o trabalho de Michael K. Brett - Surman, que eram trabalhos de graduação, cujo objeto de estudo foi o material fóssil dos hadrossauros, que foram reexaminados. O resultado determinou que o holótipo do gênero Anatosaurus, ou seja, o exemplar de Cope, era na realidade um Edmontosaurus e ainda afirmaram que o outro exemplar era suficientemente diferente do Edmontosaurus para merecer um gênero próprio, ou seja, o a espécie Anatosaurus copei continuou existindo.
Como as teses e dissertações de graduação não foram consideradas como publicações oficiais pela Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica, a qual regula a forma de nomeação de organismos, a teorias apresentadas não eram oficialmente válidas, mas eram boas o suficiente para que diversos paleontólogos as adotasse em muitos trabalhos populares na época, o que de fato ocorreu.
Sugeriu-se em 1990 o nome Anatotitan copei para substituir o nome antigo, cuja publicação oficial na literatura científica ocorreu no mesmo ano, em um artigo escrito por Brett-Surman com Ralph Chapman. O nome Anatotitan é uma combinação do termo proveniente do Latim, anas = pato e do grego, Titan = grande, além de que o nome da espécie, como já mencionado, é uma homenagem a Edward Drinker Cope, usando seu sobrenome acrescido de I no final, formando a palavra copei, algo que significa "de Cope", o que no final, resulta no significado "Pato Grande de Cope".
Neste início da década de 90 já haviam desenterrado mais 3 exemplares de A. copei, sendo ao todo 5 exemplares, sendo que atualmente pelo menos 6 indivíduos são conhecidos.
Mas atualmente ainda continuam as discussões a respeito do Anatotitan, pois alguns paleontólogos, nomeadamente Jack Horner, David B. Weishapel e Catherine Forster, acreditam que todos os espécimes de A. copei são na verdade indivíduos de Edmontosaurus annectens, cujo crânio foi levemente quebrado e por isso é mais achatado e um pouco diferente.
Veja o estranho crânio do Anatotitan
©
Tuomas Koivurinne

Ainda há uma possível segunda espécie de Anatotitan, denominada A. longiceps, que foi adicionada ao gênero em 1991 pela primeira vez, por George Olshevsky.
Essa adição foi aceita pelo pesquisador Donald F. Glut (1997), mas novamente Horner e Weishampel vem contrariando os outros paleontólogos, dizendo que o A. longiceps é um sinônimo de A. copei e de acordo com eles, se A. copei é sinônimo de Edmontosaurus annectens, então logo A. longiceps é um Edmontosaurus também, como publicaram no seu estudo junto com Forster em 2004.
Enquanto não há um consenso a respeito da afirmação de Horner e seus colegas, o gênero Anatotitan é válido e eu como diversos amantes dos dinossauros vamos continuar vendo o Anatotitan como um dinossauro diferente de Edmontossauro.
A classificação atual deste dino, está da seguinte maneira de acordo com o site DinoData: Ornithischia > Ornithopoda > Hadrosauridae > Hadrosaurinae > Edmontosaurini > Anatotitan

Os restos do Anatotitan foram achados somente em rochas do final do Maastrichtiano, no estado de Dakota do Sul, onde fica a Formação Lance e na Formação Hell Creek também. Além deste local, a parte da Formação Hell Creek do estado de Montana também forneceu alguns fósseis do Anatotitan, porém em nenhum destes sítios foi encontrado um "cemitério" de Anatotitans, como ocorreu com o ceratopsiano Paquirrinossauro no Canadá ou com o prossaurópode Plateosaurus na Alemanha.
A partir dos seus restos foi possível determinar sua aparência que não varia muito da dos outros dinossauros bico de pato, pois o corpo é bem semelhante, mas não possuía cristas como a maioria dos animais do grupo, pois a sua era muito singela, pequena. Seu crânio era bem diferente, bem achatado e mais largo, com o característico bico na boca, revestido de queratina, como indicam os registros fósseis.
O parente mais próximo do Anatotitan é o Edmontossauro, e são muito similares, tanto que alguns acreditam que sejam o mesmo animal, como já dito antes nesta postagem.
Em questão de tamanho, a estimativa dada por E. D. Cope foi de 12 metros de comprimento, com um crânio de 1,18 metros, mas revisões posteriores baixaram a medida para 8,8 metros de comprimento, porém o esqueleto usado na medida estava incompleto, faltavam ossos do quadril, da vértebra e da cauda .
Um esqueleto atualmente exibido próximo ao holótipo é estimado em 9,1 metros de comprimento, com a cabeça situada a 5,2 metros acima do solo em pose bípede e a altura nos quadris é de 2,1 metros.
De acordo com o site DinoData, a estimativa atual é de 12 metros de comprimento, como afirmou Cope no início dos estudos sobre este animal e sua massa corporal deve ter sido de aproximadamente 3,3 toneladas. O crânio do Anatotitan é conhecido por seu longo e largo focinho em forma de bico. Já em seus estudos, Cope comparou isso com a vista lateral, de perfil do crânio de um ganso, e com a vista superior do crânio de um pássaro de bico curto, constatando que o crânio era mais longo e chato proporcionalmente que em qualquer outro hadrossaurídeo conhecido. A parte sem dentes da mandíbula anterior era relativamente mais longa que em outros dinossauros do mesmo grupo e havia ossos rodeando as fenestras, que estranhamente formavam depressões, orifícios em torno das aberturas cranianas.
Segundo algumas fontes, o termo "dinossauro bico de pato" surgiu com o Anatotitan na época de seu descobrimento e não é exagero, pois ele tem mesmo um bico estranho, como você pode notar na foto de uma réplica logo abaixo.
Réplica do crânio do Anatotitan
© American Museum of Natural History/Recast.com
Os ossos que suportam os olhos eram retangulares e mais longos do que altos, entretanto tais características devem ter sido aumentadas pelo esmagamento pós-mortem (depois que o bicho morreu). O osso chamado quadrado e que forma a articulação da mandíbula era bem curvado, além de que tinha a mandíbula longa e fina, sem curvatura para baixo como podemos perceber em outros hadrossauros. Outra peculiaridade do crânio é um tipo de aresta proeminente que cruza toda a mandíbula, o que provavelmente reforçava a estrutura aparentemente frágil da mandíbula.
Um osso, conhecido como pré-dentário, era largo e tinha forma de pá. A coluna vertebral do Anatotitan tinha mais de 60 vértebras, sendo 12 vértebras cervicais (do pescoço), 12 dorsais (do corpo/tronco), 9 vértebras sacrais (da parte da pélvis e início da cauda) e mais de 30 vértebras caudais.
Os membros possuíam ossos mais longos e leves que os dos hadrossaurídeos de tamanho parecido e a sua pélvis era bem distinta, permitindo a movimentação em duas ou quatro patas.

Era um dinossauro incrível, vegetariano, e provavelmente preferia comer apoiado em suas quatro pernas, mas correr com certeza seria mais fácil em duas pernas, principalmente para fugir dos predadores e como já mencionei, Henry Fairfield Osborn usou os esqueletos no Museum Americano de História Natural para representar as duas poses, bípede e quadrúpede lado a lado.

Falando em comer e fugir, não posso esquecer de mencionar algo importantíssimo sobre qualquer dinossauro, que é o ambiente em que viveu, que tipo de alimento encontrava disponível em tal local e quais os perigos dali.
O paleontólogo Dale Russel descreveu o ecossistema onde viveu o Anatotitan em um trabalho, que na verdade é a descrição do ambiente da Formação de Hell Creek durante aquele período, com foco na área de Fort Peck.
Segundo ele, o local era uma planície alagadiça com um clima subtropical relativamente seco que criava condições de vida para uma grande variedade de plantas, de árvores angiospermas a cedros e ciprestes, de fetos (samambaias) a ginkgos. Por falar em comida, o Anatotitan usava seu largo bico córneo para arrancar as plantas que gostava de comer e as mastigava! Sim, parece estranho dizer isso, mas a maior parte dos dinossauros não podia mastigar nem fazer qualquer tipo de movimento parecido, mas os hadrossauros eram especiais. Para mastigar, precisamos manter a comida na boca, mas em animais como crocodilos, dinossauros carnívoros entre outros, a comida acaba escapando para fora da boca por falta da bochecha, que nós mamíferos temos. Aparentemente ela não tem função, mas é pra isso que ela serve, manter a comida na boca enquanto mastigamos. Mas a mastigação do Anatotitan e de outros hadrossauros não era tão sofisticada como a nossa, mas já era uma evolução em relação aos demais dinos, o que só era possível graças a forma que seus dentes se agrupavam, em baterias com mais de 1000 deles, que juntos trituravam a vegetação quando o animal movia a mandíbula de forma a macerar as plantas, um movimento quase horizontal da mandíbula, que acabava processando as plantas que ele colheu do solo ou de árvores, usando a pose bípede, facilitando a digestão.
Bateria de dentes de um Edmontossauro: a do Anatotitan era praticamente igual © Vince Williams / Universidade de Leicester

Outros dinossauros também viveram por ali, entre estes o Thescelosaurus, um herbívoro hypsilofodontídeo, os ceratopsianos e Triceratops e Torosaurus, além do Edmontosaurus que é similar ao Anatotitan. Mas não acaba por aí, pois ali ainda viveram o Ankylosaurus, o Pachycephalosaurus e o Stygimoloch, enquanto os terópodes eram representados por Ornithomimus, Troodon e Tyrannosaurus rex.
O pobre Anatotitan é agarrado pelo Tiranossauro rex
©
Daisuke Komatsu

O paleoilustrador Luis Rey pintou uma cena interessante de uma família de T.rex alimentando-se de um cadáver do Anatotitan e um exemplar da espécie sendo perseguido na mesma imagem por dois "rexes" adultos.
Anatotitan: potencial presa do rei?
© Luis ReyAnatotitan sendo atacado por T.rex
© BBC


Acredito que mencionei anteriormente neste post que as fenestras e aberturas das narinas deste dinossauro tinham extensas depressões em seu redor. Provavelmente abrigavam uma espécie de bolsa inflável de tecido mole que talvez servisse para produzir sons, provavelmente usados para chamar ou alertar parceiros de bando ou somente para uso de exibição visual, neste caso sendo talvez uma espécie de bolsa inflada com ar que deveria ser colorida para atrair parceiros na época de acasalamento.
Anatotitan se comunicando em Caminhando com os dinossauros
© BBC
Quanto à reprodução deste dino, pouco ou nada se disse a respeito, mas é provável que fosse bem similar à dos outros hadrossauros, com machos tentando impressionar as fêmeas com sons ou adornos coloridos, dentre estes as cristas, que talvez tivessem ambas as funções. Provavelmente faziam ninhos e botavam ovos, mas não sabemos com certeza, porque nenhum material fóssil de ovos ou ninhos do Anatotitan foram descobertos.
Mas algo sabemos com certeza, que é a aparência, ou melhor, a textura da pele deste dinossauro, pois um de seus fósseis estava mumificado e preservou extensas áreas com impressões da pele, que era bem característica de um réptil, com escamas arredondadas, não sobrepostas, mas separadas por um área de pele mais fina entre cada uma. O tamanho das escamas variava de acordo com a localização dela no corpo, sendo áreas no dorso que tinham mais exposição ao sol e que eram mais afetadas por contato com o solo recobertas com escamas mais grossas e grandes, enquanto áreas como dobras, parte da barriga ou do lado interno da perna tinham escamas mais finas.
O Anatotitan era um animal terrestre, mas por muito tempo pensavam o contrário disto imaginando-o como um ser aquático ou anfíbio. Anfíbio não no sentido literal da coisa, mas para indicar que passava grande tempo na água e por vezes aventurava-se na terra firme.
A descrição de E. D. Cope no início dos estudos sobre este animal promoveu os hadrossauros como anfíbios, contribuindo para essa imagem tradicional. Cope dizia que os dentes da mandíbula inferior eram conectados de forma muito fraca e poderiam, segundo ele, quebrar se usados para comer comida dura como as plantas terrestres, além de que o bico, segundo Cope, seria fraco também, servindo apenas para comer apenas plantas moles, aquáticas.
Infelizmente para Cope, ele descreveu diversos ossos do crânio incorretamente, além de que as mandíbulas inferiores estavam incompletas, faltavam as paredes internas que seguravam os dentes, o que provaria que estes eram bem presos se o crânio estivesse inteiro, ou seja, a teoria dele estava errada, o que é possível verificar com muita precisão hoje com conhecimento mais aprofundado sobre o grande réptil, além de que os paleontólogos possuem técnicas modernas de análise.
Este dinossauro provavelmente andava em bandos com diversos indivíduos, pelo menos é o que dizem os paleontólogos, se baseando em comportamento de outros animais, vivos e extintos. Talvez pudessem cuidar um do outro se vivessem juntos e a busca por comida e parceiros para acasalar ficaria mais fácil.
Anatotitans de When dinosaurs Roamed America
© Discovery channel

O Anatotitan não é tão popular entre os leigos em matéria de paleontologia, pois raramente é usado em filmes ou brinquedos. Mas apareceu até que ocasionalmente na mídia, incluindo documentários como "Quando os dinossauros reinavam na Terra" (When Dinosaurs roamed America) do Discovery Channel. Também foi mostrado em Caminhando com os Dinossauros, no episódio final da série, intitulado "A morte de uma dinastia", no qual é representado como o último dos dinos bico de pato e como uma presa do Tiranossauro.
Anatotitan, documentário Walking With Dinosaurs
Episódio 6, A morte de uma dinastia
© BBC Anatotitan no habitat natural
© BBC Anatotitan de Quando os Dinossauros reinavam na Terra
© BBC
Em forma de brinquedo, acredito que apenas uma empresa realizou um boneco do Anatotitan, que é a empresa Safari Ltd., que criou uma miniatura do animal como parte da coleção Sue Field Museum, que é baseada na descoberta do maior esqueleto de Tiranossauro, apelidado de Sue e que hoje está no Field Museum de Chicago. O boneco é bem bonito, com uma cor laranja puxando para o amarelo queimado com listras avermelhadas, bem interessante, mas infelizmente o boneco é pequeno, medindo apenas alguns poucos centímetros.
Boneco do Anatotitan feito pela empresa Safari
© Safari Ltd.

Fontes

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