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terça-feira, 13 de abril de 2010

Australopithecus sediba: um novo fóssil transicional ou apenas mais um hominídeo? [update 13/04/10]

Crânio fóssil do A. sediba
© Brett Eloff
Matthew, um garoto filho do paleoantropólogo Lee Berger ajudava seu pai em uma escavação na África e fez uma descoberta interessante. O garoto olhava nas redondezas e voltou ao pai e disse "Dad, I've found a fossil" (Pai, eu achei um fóssil). Ao examinar o que ele encontrara os pesquisadores perceberam que era parte de um hominídeo pré-histórico de pelo menos 2 milhões de anos. Essa interessante descoberta rendeu à paleontologia e paleoantropologia um novo animal, que pode ser um ancestral do homem moderno, cujos detalhes você confere no resto desta postagem.


A caverna em que estava o fóssil foi descoberta em 2008 de forma um tanto inusitada, pois a região já era antes explorada por paleontólogos, porém tais cavernas nunca haviam sido encontradas, até que um dos cientistas resolveu usar o Google Earth, um software desenvolvido pela Google que usa os satélites da empresa para fotografar o globo terrestre do espaço e com acesso às imagens em alta resolução foi possível perceber que havia ali uma caverna e que poderia haver fósseis ainda a serem desenterrados. Obviamente que não dá pra perceber que há um fóssil no solo usando o Google Earth, que aliás pode ser usado por qualquer pessoa com computador e acesso à internet, mas dá para detalhar o tipo do terreno e a geografia e topografia local e com base nisso podem saber se o solo é propício ou não à formação de fósseis. Se for este o caso, os pesquisadores anotam as coordenadas exatas do local e começam um "pente fino" no sítio e foi exatamente isso que aconteceu nesta caverna, situada na África do Sul, em Malapa.
Crânio fóssil do A. sediba
©
Brett Eloff

O achado na verdade compõoe-se de dois indivíduos de uma nova espécie de hominídeo, batizada de Australopithecus sediba, com idade aproximada de 1,9 milhões de anos, sendo que um deles é um menino de 11 ou 12 anos, segundo a estimativa e uma mulher entre 20 e 30 anos.
Um estudo publicado como matéria de capa da revista Science mostra que este hominídeo é provavelmente um descendente de Australopithecus africanus e como muitos hominídeos apresenta uma mistura de características de primatas primitivos e modernos.
© Science
Os dentes pequenos, nariz projetado, pélvis bem avançada e longas pernas são traços de hominídeos modernos, enquanto que os braços longos e pequena cavidade cerebral que não abrigava um cérebro maior que um terço do tamanho do nosso, são características primitivas. O menino teria cerca de 1,30 metros de altura e aparentemente morreu na caverna procurando por água. Pode ser que o outro esqueleto, da fêmea adulta, fosse da mãe do menino. Segundo a pesquisa estes hominídeos podiam caminhar eretos como nós, mas com braços longos podiam também escalar e balançar nas árvores, e há material coletado que pode, ou não, ser exemplares de ferramentas usadas por estes mamíferos. Na mesma caverna foram encontrados outros animais, incluindo felinos dentes de sabre, cavalos extintos, hienas pré-históricas e cães selvagens. Isso ajuda a justificar o nome dado à caverna, que em inglês é Death Shaft, que quer dizer algo como "Fosso da Morte".

Embora nunca tenham conseguido extrair DNA de restos fósseis com mais de 10 mil anos, os cientistas estão fazendo tudo o que podem para retirar qualquer possível vestígio de material genético dos esqueletos. O diferencial neste exemplar de primata é que existem poucos exemplos de hominídeos datados de aproximadamente 2 milhões de anos e por isso esse fóssil serve como mais um elo da corrente evolutiva, preenchendo uma lacuna temporal antes vazia. Mas ainda resta uma dúvida aos pesquisadores: este animal é uma espécie transicional, popularmente e incorretamente denominados elos perdidos, ou é apenas mais um exemplo de humanóide primitivo? Só o tempo e muita pesquisa poderão esclarecer.
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Informação adicionada dia 13 de abril de 2010.
Uma análise no crânio do hominídeo por meio de um exame chamado microtomografia sincrotrônica de raio-X, teste este que que permite aos cientistas ver o interior de um bloco de rocha em escala microscópica sem ter que partir o mesmo em pedaços, o que no caso de fósseis seria inaceitável. Para surpresa dos pesquisadores foram encontrados traços do tecido mole do cérebro dos primatas dentro do crânio. Além deste, foram analisados outros ossos e dentes e até insetos fósseis surgiram, o que talvez prove que os hominídeos morreram e o cadáver foi devorado pelos insetos.

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