Tiktaalik © Nobu Tomura CC BY-SA 4.0 |
Marés que deixaram os peixes no seco centenas de milhões de anos atrás podem ter dado início à evolução dos vertebrados terrestres. Novos cálculos sugerem que cerca de 400 milhões de anos atrás, muitas regiões costeiras experimentaram ciclos de marés de duas semanas que variavam em altura em 4 metros ou mais. Tal variação pode ter encalhado peixes em piscinas naturais por algumas semanas. Somente os peixes com nadadeiras fortes com músculos suficientes para o animal arrastar-se de volta para a água sobreviviam. Evidências fósseis dos mais antigos vertebrados terrestres vem de lugares que tinham tais variações de maré. Clique em "Leia Mais" e confira a matéria.
A pesquisa relatando estes achados foi mostrada em 15 de fevereiro no Encontro de Ciências Oceânicas, em Portland, Oregon. A ideia de que os primeiros animais terrestres vertebrados podem ter evoluído desses peixes encalhados em piscinas de maré é geralmente bem aceito há décadas. "O que estamos mostrando agora é uma explicação de como essas piscinas se formavam e porque secavam" diz Mattias Green, oceanógrafo da Universidade de Bangor, membro da equipe que fez a pesquisa. A pesquisa foi liderada por Hannah Byrne, previamente da Universidade de Bangor, mas que agora faz seu PhD na Universidade de Uppsala, na Suécia.
Centenas de milhões de anos atrás, a Lua estava muito mais perto da Terra que está agora. Um astrofísico da Universidade de Oxford, Steven Balbus, estudou como a proximidade da Lua à Terra pode ter afetado seu empuxo gravitacional e influenciado a vida do planeta. Em 2014, ele sugeriu que as variações de marés da Terra teriam sido maiores durante a época que surgiram os primeiros vertebrados tetrápodes, aqueles com quatro membros capazes de andar em terra.
Os pesquisadores Byrne e Green usaram essa ideia e simularam o quanto as marés teriam subido e invadido a costa dos continentes pelo mundo, baseando-se na configuração continental da época e nas formas e profundidades dos mares. Eles estudaram dois períodos de tempo: 430 milhões de anos, tempo em que aparecem os primeiros animais com pulmões e 400 milhões de anos, quando surgiram os primeiros tetrápodes.
Para ambos os períodos, a equipe descobriu grandes variações em muitas localidades para as marés diárias e quinzenais. O ciclo quinzenal, gerado pela órbita da Lua ao redor da Terra, é importante porque controlam quanto tempo peixes podem ficar presos, diz Green. Se um peixe fosse depositado em uma piscina natural na maré mais alta possível, então poderia levar outros 14 dias antes que a água voltasse até ali e o levasse novamente ao mar. Esse é um longo tempo para ficar encalhado diz Green.
A equipe especula que peixes podem ter conseguido sair das piscinas e voltado para o mar e aqueles que conseguiam eram os mais adaptados ao ambiente, logo conseguiam sobreviver e deixar mais descendentes. Fósseis dos tetrápodes mais antigos, como o peixe de nadadeiras lobadas Tiktaalik e pegadas de tetrápodes foram achados em locais que teriam essas marés com alta variação.
Entretanto alguns cientistas são céticos a respeito da idea. "Essa é somente uma das muitas ideias de como surgiram os tetrápodes terrestres, qualquer uma ou todas elas podem ser parte da resposta verdadeira", diz Jennifer Clack, paleontóloga a Universidade de Cambridge.
Já Matthew Huber, especialista em criar modelos de paleoclima da Universidade Purdue em Indiana, gostaria de ver mais evidências de que o tempo de surgimento desses animais com a grande variação de marés não é apenas uma coincidência. Mas ele comenta que "a conexão parece valer a pena ser estudada", pois o trabalho é intrigante.
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