Lythronax em seu hábitat natural © Andrey Atuchin |
Essas últimas semanas foram bem agitadas no mundo da paleontologia pela revelação de mais um dinossauro encontrado nos Estados Unidos, precisamente no estado de Utah. Nada de estranho nisso, pois este lugar já é local de vários achados, mas o que realmente foi que chamou a atenção é que o dinossauro é um novo integrante do grupo dos tiranossaurídeos, famosos predadores de médio e grande porte do final do Cretáceo e que inclui o Tiranossauro rex. Este novo dinossauro é importante para entender a evolução do grupo e você vai saber mais sobre ele agora, aqui no Ikessauro! Clique em "Leia Mais" e tenha uma boa leitura!
O novo predador foi batizado com um nome um tanto quanto chamativo, como é tradição em dinossauros desse grupo, afinal os paleontólogos e dinófilos em geral adoram esse grupo e dão certa atenção especial a ele. O bicho recebeu o nome oficial de Lythronax argestes, que significa "Rei Sanguinário do Sudoeste". Devo ressaltar que aqui traduzi livremente o nome do bicho por conta própria, adaptei "gore" do inglês para "sanguinário", pois não temos um termo exatamente com o mesmo significado na língua portuguesa, que seja a tradução perfeita de "gore", que quer dizer algo como "sangue coagulado". Se alguém tiver melhor tradução, posta aí nos comentários.
Esqueleto do Lythronax © Andrey Atuchin |
Enfim, o dinossauro foi encontrado em estratos vulcânicos de 80 milhões de anos atrás, num lugar chamado Grand Staircase-Escalante National Monument, que é como se fosse um parque nacional de preservação da região pelo valor histórico e científico dos artefatos, formações rochosas e fósseis ali encontrados.
Lythronax © Andrey Atuchin |
Medindo cerca de 8 metros de comprimento, com um crânio de quase um metro, o Lythronax é um dinossauro menor que seu parente mais famoso, mas ainda assim um predador grande. Deve ter atingido cerca de 2,5 toneladas em massa e chamou a atenção também por apresentar uma morfologia bem derivada dentro do grupo de tiranossauros. Em termos biológicos, derivado quer dizer o mais recente, a versão mais atual, mais modificada, para não dizer mais evoluída ou mais complexa, o que seria incorreto. O Lythronax não é conhecido de uma grande parte do esqueleto: tem apenas
grande parte de um crânio preservado, pouco além disso.
Lythronax (A) comparado com Teratophoneus (B) © Loewen et al. |
Isso quer dizer que ele conseguia focar o mesmo ponto na sua frente com os dois olhos simultaneamente, o que dá melhor precisão em cálculo de distância e profundidade. Antes se pensava que só os tiranos mais recentes, de 70 milhões de anos ou menos, tinham essa característica, mas a presença dela num animal de 80 milhões de anos comprova que estávamos errando em pelo menos 10 milhões de anos.
Anteriormente, análises sugeriam que para várias espécies de tiranossaurídeo o parente mais próximo vivera muito longe. Então por exemplo, alguém poderia encontrar parentes próximos em um ramo evolucionário em que algumas espécies estão na Ásia e a outra na América. A impressão que isso dá é que havia uma alternância de grupos de tiranossauros entre América do Norte e Ásia, enquanto um grupo evoluía num continente, outro evoluía no outro, aí havia uma inversão e começava novamente. Isso sugeria que havia uma troca de animais entre os continentes, pelo Estreito de Bering, resultando em múltiplas pequenas radiações em cada lugar.
Modelo digital do crânio escaneado © Loewen et al. |
Anteriormente, análises sugeriam que para várias espécies de tiranossaurídeo o parente mais próximo vivera muito longe. Então por exemplo, alguém poderia encontrar parentes próximos em um ramo evolucionário em que algumas espécies estão na Ásia e a outra na América. A impressão que isso dá é que havia uma alternância de grupos de tiranossauros entre América do Norte e Ásia, enquanto um grupo evoluía num continente, outro evoluía no outro, aí havia uma inversão e começava novamente. Isso sugeria que havia uma troca de animais entre os continentes, pelo Estreito de Bering, resultando em múltiplas pequenas radiações em cada lugar.
Intercâmbio entre essas pontes de terra não são incomuns e certamente nós sabemos que algumas linhagens de dinossauros se moveram entre os continentes em diversas vezes. No Cretáceo tardio a fauna em geral da América do norte e do leste da Ásia era similares e nós vemos muitas espécies parecidas em cada local sugerindo que as massas de terra estavam ligadas em algum ponto. Claramente é possível que esses animais tivessem se espalhado de um continente para o outro, mas os tiranossauros estavam de fato migrando tanto assim, enquanto outros grupos parecem ter estado estáveis?
Entretanto a nova análise agrupa todas as espécies americanas em um grupo e todas as espécies asiáticas em outro. Como resultado disso, temos que em vez de intercâmbios regulares entre os continentes, de fato houveram primariamente apenas 3 radiações geográficas, uma na Ásia, uma na parte norte da América do Norte e uma no sul dos Estados Unidos, com Lythronax naturalmente representando parte do grupo sulino. No entanto, os parentes mais próximos do Tyrannosaurus estão na ásia e isso deixa uma brecha para novas análises.
Como observado pelo paleontólogo Tom Holtz (especialista em tiranossaurídeos) da Universidade de Maryland, "essa nova descoberta também apoia a ideia de que os tiranos asiáticos gigantes de dentes robustos como o Zhuchengtyrannus e Tarbosaurus foram imigrantes da América do Norte em vez da própria linhagem asiática, porque eles compartilham uma origem em comum com Lythronax e Tyrannosarus." Essa hipótese das relações e movimentos é nova para os tiranossauros, mas que tem alguns precedentes e outros dados por trás dela.
Outras análises recentes de dinossauros da mesma parte de Utah sugeriram um padrão local de radiação com relativamente poucas mudanças entre áreas. Se esses animais não se moviam ou não podiam se mudar, migrar muito, isso indicaria que os tiranossauros eram igualmente limitados nesta questão. De maior importância ainda é a geografia da região na época, com a América do Norte estando separada em dois continentes, por um mar interior que se estendia do norte ao sul. Nesse ponto o Lythronax apareceu, o mar estava no seu nível mais alto, e portanto tinha o maior potencial de separar porções de terra.
Esse pico no nível do mar pode portanto ter ajudado a separar os tiranossaurídeos e propiciar diversificações locais, criando os grupos do norte e do sul. Apesar de haver fortes evidências apoiando a nova ideia, levará algum tempo para ver se outros dados podem ser encontrados para corroborar a hipótese. Então a mudança nos relacionamentos evolucionários dos tiranossaurídeos serão bem controversos por um tempo.
De qualquer modo, Lythronax é um achado importante e interessante que oferece novas pistas sobre a evolução dos tiranos. O Dr. Corwin Sullivan do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia afirma que "é sempre ótimo conhecer um novo tirano do cretáceo, e o Lythronax pode ser um particularmente notável. Apesar de ser o tiranossaurídeo mais antigo, não é de modo algum um membro primitivo do grupo, o que nos diz duas coisas interessantes: que tiranossauros iniciaram sua radiação evolucionária antes do que se pensava e que uma boa parte do registro está faltando ainda".
Holtz concorda, dizendo que "nós sabemos pouco sobre a diversidade da fauna de dinossauros asiáticos da mesma época do Lythronax, então pode ser que formas similares existam no outro lado do pacífico". Como sempre, uma novidade interessante responde uma questão e cria várias outras, que se espera serem respondidas com novos achados na Ásia, ajudando a entender a grande transferência de tiranos entre os continentes no decorrer de dezenas de milhões de anos.
Entretanto a nova análise agrupa todas as espécies americanas em um grupo e todas as espécies asiáticas em outro. Como resultado disso, temos que em vez de intercâmbios regulares entre os continentes, de fato houveram primariamente apenas 3 radiações geográficas, uma na Ásia, uma na parte norte da América do Norte e uma no sul dos Estados Unidos, com Lythronax naturalmente representando parte do grupo sulino. No entanto, os parentes mais próximos do Tyrannosaurus estão na ásia e isso deixa uma brecha para novas análises.
Como observado pelo paleontólogo Tom Holtz (especialista em tiranossaurídeos) da Universidade de Maryland, "essa nova descoberta também apoia a ideia de que os tiranos asiáticos gigantes de dentes robustos como o Zhuchengtyrannus e Tarbosaurus foram imigrantes da América do Norte em vez da própria linhagem asiática, porque eles compartilham uma origem em comum com Lythronax e Tyrannosarus." Essa hipótese das relações e movimentos é nova para os tiranossauros, mas que tem alguns precedentes e outros dados por trás dela.
Ossos e reconstrução do crânio © Loewen et al. |
Esse pico no nível do mar pode portanto ter ajudado a separar os tiranossaurídeos e propiciar diversificações locais, criando os grupos do norte e do sul. Apesar de haver fortes evidências apoiando a nova ideia, levará algum tempo para ver se outros dados podem ser encontrados para corroborar a hipótese. Então a mudança nos relacionamentos evolucionários dos tiranossaurídeos serão bem controversos por um tempo.
Escultura da cabeça © Gary Staab |
Making of da escultura
© Museu de História Natural de Utah
© Museu de História Natural de Utah
De qualquer modo, Lythronax é um achado importante e interessante que oferece novas pistas sobre a evolução dos tiranos. O Dr. Corwin Sullivan do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia afirma que "é sempre ótimo conhecer um novo tirano do cretáceo, e o Lythronax pode ser um particularmente notável. Apesar de ser o tiranossaurídeo mais antigo, não é de modo algum um membro primitivo do grupo, o que nos diz duas coisas interessantes: que tiranossauros iniciaram sua radiação evolucionária antes do que se pensava e que uma boa parte do registro está faltando ainda".
Holtz concorda, dizendo que "nós sabemos pouco sobre a diversidade da fauna de dinossauros asiáticos da mesma época do Lythronax, então pode ser que formas similares existam no outro lado do pacífico". Como sempre, uma novidade interessante responde uma questão e cria várias outras, que se espera serem respondidas com novos achados na Ásia, ajudando a entender a grande transferência de tiranos entre os continentes no decorrer de dezenas de milhões de anos.
1 comentários :
Como sempre excelente! E que achado interessante, mais uma peça se encaixando no quebra cabeça da história natural. Que venham novos achados o/
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