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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Xiphactinus

Um Xiphactinus ataca um Pteranodon
© D. W. Miller
© Bonhams New York
Nome Científico: Xiphactinus audax e X. vetus.
Significado do Nome: Espada Raiada ou Nadadeira Espada.
Tamanho: até 6 metros de comprimento.
Peso: 500 quilos a 1 tonelada aproximadamente.
Alimentação: Carnívora.
Período: Cretáceo Superior.
Local: Canadá, Austrália, Estados Unidos e Europa.

Veja onde encontraram fósseis do Xiphactinus
© Mapa modificado por Patrick Król Padilha
Veja quando viveu o Xiphactinus
©Patrick Król Padilha

Finalmente o Blog do Ikessauro retornou à ativa e hoje falarei sobre um animal que acho muito interessante e que pertence a um grupo ainda não abordado aqui no blog. Ele é o Xiphactinus, um peixe predador do período Cretáceo, que chegava a medir até 6 metros de comprimento e tinha dentes enormes de 7,5 centímetros. Algumas vértebras gigantes encontradas sugerem que cresceria ainda mais, porém até que um esqueleto completo de grande tamanho seja, encontra, isso é mera especulação. Seu nome é Xiphactinus audax, que vem do latim e do grego e significa "Espada Raiada" ou em outra interpretação "Espada com Raios". Seu nome provém do fato de que seu corpo é bem alongado e estreito, parecido com o atual Camurupim, (embora não tenham parentesco), lembrando uma espada e os "raios" seriam o "ossinhos" finos das nadadeiras do animal.
O fóssil Tipo do Xiphactinus
©
Susan Liebl/Instituto Smithsonian

Outra explicação, talvez mais correta, para o significado do nome é que o pesquisador que nomeou o primeiro exemplar, descoberto por C. H. Sternberg em 1846, percebeu que os raios ósseos das nadadeiras eram grandes e chamavam a atenção. Na verdade o fóssil original, chamado fóssil Tipo por ter sido usado para criar um novo gênero, era um desses ossos da nadadeira. Esse tipo de "ferrão" parecia uma espada. Então um peixe com forma de espada cheio de nadadeiras raiadas poderia talvez ser chamado de "Espada Raiada" ou Nadadeira Espada, pois talvez usasse os ferrões da nadadeira para perir predadores. O esqueleto original tinha 3,5 metros de comprimento e Dr. Joseph Leidy foi o pesquisador que o descreveu em 1870 e deu o nome de Xiphactinus audax, pois pouco antes George F. Sternberg, o sobrinho do Dr. George M. Sternberg, enviou o original Xiphactinus para Leidy, a fim de que este o estudasse. A classificação atual deste peixe seria:
Chordata > Osteichthyes >
Ichthyodectiformes > Ichthyodectidae > Xiphactinus audax

Na verdade, Leidy havia descrito um dente encontrado em New Jersey e em 1856 o nomeou Polydonodon vetus. Segundo sua descrição, o dente era cônico, tinha bordas afiadas. Em 1865 Leidy volta a trabalhar no dente e descreve com mais detalhes. Acaba acreditando que trata-se de um dente de réptil, talvez Discosaurus ou Cimoliasaurus, pensou ele, mas como não podia determinar com precisão na hora, deixou o estudo de lado. Mais tarde seria este dente definido como uma possível espécie irmã de X. audax, o que acho imprudente, pois uma definição dessas baseada num único dente é muito apressada, para não dizer nada pior, e isso levantou questões sobre qual nome deve ser oficial para o gênero, se Polygonodon de 1856, que por ser mais velho teria privilégio, ou Xiphactinus, de 1870. Prevalesceu Xiphactinus, acredito que por falta de fósseis comprovando que esse dente pertenceu a outra espécie de fato.
Mas outra questão sobre a validade do nome Xiphactinus surgiu pelo fato de Cope ter nomeado o peixe antes de Leidy, como Portheus molossus. No entanto ele não tornou o fato oficial publicando uma pesquisa sobre o fóssil e por isso Leidy ganhou a dianteira publicando seu estudo em 1870, enquanto que Cope só o fez em 1872.
O original do estudo, também chamado de fóssil Tipo, seria um longo fragmento de 40 centímetros de comprimento, pertencente ao ferrão de uma nadadeira peitoral (USNM V52), coletada por Dr. George M. Sternberg.

Esse caso do animal já ser conhecido antes de receber um nome oficial, pois fora nomeado por Edward Drinker Cope como Portheus molossus informalmente, pode ser comparado com outro bem famoso. O nome que ganhou grande popularidade, Portheus, ainda é utilizado por algumas pessoas, incorretamente, de forma similar ao caso "Brontossauro/Apatossauro".
Um bom retrato do Xiphactinus
©
Ai'ichi Kato

O espécime Portheus molossus descrito por Cope é considerado um sinônimo júnior da espécie atualmente. Restos do esqueleto de Xiphactinus foram encontrados no Kansas, Alabama e Georgia - Estados Unidos e também na Europa, Austrália e Canadá. O Xiphactinus audax foi um peixe voraz, com pelo menos uma dúzia de espécimes tendo sido encontrados com restos de presas não digeridas ou parcialmente digeridas no estômago. Sendo tão popular, deve ter habitado os mares do globo por toda sua extensão. Deveria caçar presas como peixes, filhotes de répteis marinhos e tudo o mais que pudesse engolir inteiro. Usava seus grandes dentes cônicos de até 7,5 centímetros para agarrar a presa e feri-la, então dava um jeito de engolir o corpo da vítima como um todo.
Veja os dentes proemientes
©
Ocean of Kansas.comOs dentes são tão impressionantes que a mandíbula
poderia ser confundida com a de um dinossauro
© Ocean of Kansas.com

No entanto às vezes acabava se dando mal, porque sua técnica tinha um problema que muitas vezes matava o predador por puro deicuido. Imagine um grande Xiphactinus, 3,9 metros ou mais de comprimento, nadando nas águas rasas do mar interior da América do Norte, durante o final do Cretáceo. Ele procura uma presa em potencial e havista um cardume de peixes menores chamados Gillicus arcuatus. Prontamente ele vai se camuflando entre recifes e rochas, ou usa a iluminação como artimanha para disfarçar sua aproximação. Quando está mais próximo, dá um arranque e sem nem morder, engole inteiro um Gillicus de 1,8 metros de comprimento!
O Xiphactinus poderia pensar que ganhara o dia, enchera seu estômago e este ficaria assim por um tempo e que poderia descansar. Mas assim que ele termina de engolir a presa, esta ainda viva pois não havia sido mordida, começa a debater-se dentro do animal maior, lutando em vão por sua vida.
O Gillicus não escapa, no entanto seu predador também não, pois a movimentação da presa no estômago provoca um grande estrago nos órgão internos do predador devido aos golpes de cauda e possíveis perfurações feitas com as nadadeiras. Assim, o grande e poderoso Xiphactinus, morre com falha e hemorragia interna e afunda, caindo no lodo oceânico, com sua presa não digerida morta dentro de si. Assim, milhões de anos depois o mar após ter depositado muito sedimento sobre o peixe acaba recuando e o local torna-se o meio de um continente.
Isso ocorreu de verdade, e digo com certeza baseado em evidência fóssil. Claro que inventei a narrativa baseada num fóssil real, encontrado por George F. Sternberg em 1952, no Smoky Hill Chalk - Kansas. O fóssil de um Xiphactinus de 3,9 metros, muito completo e contendo um Gillicus inteiro, de 1,8 metros no local onde estaria o estômago, foi apelidado de "um peixe dentro de um peixe" e pode ser visto no Museu Sternberg de História Natural, em Hays - Kansas.
Foto do fóssil do "peixe dentro de um peixe"
© Museu Sternberg de História Natural

Antes de encontrarem este fóssil, talvez o mais famoso dentre todos os já encontrados desta espécie, este museu em Hays abrigava em exposição o fóssil original do Xiphactinus, o primeiro esqueleto achado. Quando o "um peixe dentro de um peixe" foi achado, substituiu o outro na exposição e o museu o vendeu para o Museu da Universidade Estadual de Nebraska, onde está hoje mantido sob o número UNSM 1495.
Um X. audax foi coletado em Gove County - Kansas, e preparado por G. F. Sternberg em 1946, continha também restos de um Gillicus mais ou menos diregido, o que indica que passaram-se algumas horas depois da última refeição do peixe antes que ele morresse.
O X. audax conviveu com uma vasta variedade de animais, em sua maioria predominantemente carnívoros. Um Xiphactinus doente ou ferido poderia ser uma presa fácil no oceano mais mortal de todos os tempos, podendo ter sido morto por Mosassauros ou pelo grande Tubarão Ginsu, cujo nome oficial é Cretoxyrhina mantelli. Há indícios fósseis de que este tubarão de mais de 7 metros devorava o "Espada Raiada". Charles F. Sternberg coletou um espécime de Cretoxyrhina grande, no Condado de Trego, que continha os ossos espalhados de um grande Xiphactinus como última refeição. O espécime foi vendido para O Museu de História Natural da Universidade do Kansas, em Lawrence, onde ainda está em exposição. Veja uma descrição de C. H. Sternberg (minha própria tradução livre do inglês) de como pode ter sido o ataque ao Xiphactinus.
Xiphactinus
© Dmitry Bogdanov

"O Portheus, agora nadando por sua vida, era o foco de tubarões que estavam vindo para atacar de todas as direções. Um deles mergulha por baixo do peixe, e recebe, para sua desgraça, um golpe de sua poderosa cauda que o coloca fora do páreo. Outro recebe um empurrão do peixe. Destemidos, outros apressam-se como uma alcatéia de lobos em torno de um Cervo ferido. Entranto muitos foram feridos na briga, e o peixe herói, pelo menos, só sucumbiu devido ao grande número de atacantes, que estraçalhou seu corpo com dentes em forma de lança, e a água ficou tingida com seu sangue, até que, enfraquecido e impotente, ele gradualmente para de lutar. Os tubarões reuniram-se para o banquete. Um deles no entanto, foi tão profundamente ferido pelo peixe que afundou até o fundo lamacento com ele. Eu (C. H. Sternberg - nota do Ikessauro) tenho preservado no Museu da Universidade do Kansas um tubarão de 7,6 metros de comprimento, e misturado em seus restos estavam os ossos de um Portheus, o resultado evidente de tal combate..."
Esse descrição pode ser encontrda no livro de Charles H. Sternberg, "Caçando Dinossauros no Red Deer River, Alberta, Canadá" (1917, p. 162). O relato de Sternberg é ficção, no entanto a cena é baseada em uma descoberta, do fóssil (KUVP 247) de um grande Cretoxyrhina mantelli, que contém ossos espalhados de um grande Xiphactinus que lhe foi a última refeição.
Fóssil de Cretoxyrhina com restos de um Xiphactinus
© Ocean of Kansas.com Cretoxyrhina atcando Xiphactinus
© Scarypet & Amin Khalehparast

Embora esse peixe só tenha sido nomeado em de 1870, há registros bem mais antigos de fósseis encontrados. Segundo Mark Everhart, do site Ocean of Kansas, há registros de trabalhos de Mantell descrevendo fósseis de um Xiphactinus em 1822 e 1833. Embora Mantell tivesse descrito os dentes e mandíbula de um desses peixes, ele o identificou incorretamente como pertencendo a um réptil, embora admitisse algumas semelhanças com a estrutura de um peixe e que sem mais estudos era arriscado deduzir a que grupo pertenceu o animal.
No entanto, Louis Agassiz no volume 5 de seu "Pesquisas sobre os Peixes Fósseis" publicou ainda outro desenho do espécime corretamente identificando que era a mandíbula dum peixe e deu a este o nome "Hypsodon lewesiensis". O espécime foi reestudado e corretamente identificado como um novo espécime de "Portheus" então baseado no número de dentes na premaxila, assim este ganhou um novo nome de espécie, mantelli, tendo este parentesco com o P. lestrio e P. mudgeii de Cope.
Ou seja, enfim, havia naquela época um confusão de nomes, com Cope sugerindo Portheus lestrio e Portheus mudgeii, Agassiz com seu Hypsodon lewesiensis e Leidy traz Xiphactinus audax. Em 1898, O. P. Hay publicou um estudo dizendo que Portheus era sinônimo júnior de Xiphactinus e embora Agassiz tenha nomeado o animal antes, como Hypsodon em 1837, descrobriu-se que o primeiro fóssil de Agassiz não era um Xiphactinus, portanto o nome Xiphactinus foi o que permaneceu válido.

Em se tratando do Xiphactinus como animal, podemos imaginar como seria seu comportamento, mas apenas supor a partir do observado em fósseis. Sabemos que era grande, tinha até 6 metros e talvez mais, dentes cônicos afiados de 7,5 centímetros quando totalmente crescidos e que no centro do focinho poderiam cruzar-se em frente a boca (um dente da direita inclinado para a esquera e vice-versa). A cor do peixe é incerta, mas provavelmente deve ter sido prateado ou de uma cor parecida com o marrom ou cinza, com manchas, para ajudar na camuflagem.
Um Cardume de Xiphactinus: observe a cor
© Science Photo Library

Comia os peixes e répteis marinhos pequenos da época, ou seja, se fosse pequeno o suficiente para engolir lá estava o Xiphactinus atacando. Porém naquele habitat praticamente tudo e todos eram predadores de animais menores, então o nosso peixe poderia virar presa de vários animais como já mencionei, especialmente se estivesse debilitado.
Durante os últimos 150 anos diversos espécimes de Xiphactinus foram encontrados, a maioria nos Estados Unidos, tendo geralmente um dos Sternberg como autor da descoberta, embora pesquisadores mais recentes estejam descobrindo espécimes também. O peixe é bem comum, tanto que vários museus tem um exemplar do mesmo e há diversas instituições pelo mundo que abrigam um exemplar. Temos como exemplo o "peixe dentro de um peixe", numerado FHSM VP-333, no Museu Sternberg de História Natural contém em seu interior o espécime de Gillicus arcuatus, este marcado como FHSM VP-334. Outro espécime de Xiphactinus audax (originalmente AMNH 322199, agora AMNH FF13102) coletado em 1901 por C. H. e G. F. Sternberg, e vendido ao Museu Americano de História Natural. Estes são só alguns poucos exemplos de tantos espécimes encontrados e isso pode sugerir que ele vivia em cardumes grandes e a população da espécie era bem vasta. É sem dúvida o maior peixe ósseo já descoberto, pois lembrem-se, Tubarões por exemplo são peixes cartilaginosos.
Cardume grande de Xiphactinus
© National Geographic

O famoso C. H. Sternberg em 1922 relatou que havia encontrado um esqueleto memorável de um "Portheus". Ele disseu (o trecho a seguir é uma tradução livre da afirmação de Sternberg) que: "o fóssil estava preservado desde as nadadeiras pélvicas até o fim da cauda, e é o maior Portheus que eu já vi. A distância entre as pontas das nadadeiras da cauda é de 1,5 metro. Em 1948, meu filho Levi encontrou um crânio e parte de um corpo de um Portheus que é tão próximo em tamanho deste que eu fiz uma montagem com os dois esqueletos. Mede 4,8 metros de comprimento e será, tenho dito, o maior peixe ósseo já coletado do Cretáceo.
Ele mal sabia que no futuro encontrariam exemplares ainda maiores do Xiphactinus, o que sem dúvida dá o título a esse peixe.
O Xiphactinus tinha nadadeiras peitorais raiadas, ou seja, a membrana da nadadeira era suportada por finos ossos, como em muitos dos peixes atuais. Só que no Xiphactinus esses "pequenos ossos" eram bem grandes, alguns chegavam a 55 centímetros de comprimento! Grandes vértebras do Xiphactinus se tornaram fósseis comuns em camadas de giz do Cretáceo. As vértebras de um indivíduo de tamanho médio teriam cerca de 5 centímetros de diâmetro e 3 centímetros de comprimento. De acordo com Bardack (1965), o Xiphactinus tinha uma média de 85 vértebras. Sabemos que o Xiphactinus crescia muito quando adulto, mas pouco se sabe de espécimes jovens. Até agora não se tem um bom fóssil de jovens ou filhotes, há apenas um fóssil parcial de um indivíduo de 30 centímetros, encontrado por Mark Everhart em 1999, que ainda não foi completamente preparado para estudo.
Este espécime de X. audax consiste de uma premaxila com um dente e mandíbulas inferiores de um indivíduo estimado em 30 centímetros de comprimento. Assim como muitos animais da época, o Xiphactinus foi extinto no Evento K-T.
Outra representação artística do Xiphactinus
© Keystone Gallery

Apesar de ser mais comum nos Estados Unidos, um crânio incompleto encontrado em 2002 na República Tcheca pode ser uma nova espécie de Xiphactinus. Estava na pequena cidade Sachov, próximo à Borohradec e foi descoberto pelo estudante Michal Matejka. Em julho de 2010 os ossos de um exemplar foram descovertos perto de Morden, Manitoba, Canadá. O espécime tem cerca de 6 metros de comprimento e foi encontrado com com a nadadeira de um Mosassauro entre seus dentes. Talvez, depois de propriamente descrito, venha a ser o maior exemplar da espécie já descoberto.
Xiphactinus comparado com peixes menores:
1 - Xiphactinus audax; 2 - Ichthyodectes ctenodon;
3 -
Cladocyclus gardneri; 4 — Chirocentrites coronini;
© Dmitry Bogdanov
O X. audax foi bem representado nos documentários sobre vida pré-histórica nos anos recentes, pois é bem imponente e até assustador, além de um importante agente em seu ecossistema. Em "Sea Monters" da BBC ele aparece, assim como em "Sea Monters: A Prehistoric Adventure" da National Geographic e também na série "Criaturas Titânicas". Em outubro de 2010, uma autoridade do Kansas anunciou que fará do Xiphactinus o fóssil oficial do estado do Kansas.
Xiphactinus de Sea Monsters
© BBC
© BBC© BBC
Xiphactinus de Sea Monsters: A Prehistoric Adventure
© National GeographicO modelo de X. audax feito para a Nat. Geo.
© National Geographic

Fontes

1 comentários :

Burt Gummer disse...

não existe evidencias se na pre-historia existiu vermes gigantes?