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sábado, 3 de novembro de 2018

Dinossauros "inventaram" os ovos coloridos!




© FRANS LANTING/MINT IMAGES/SCIENCE SOURCE

Todos sabemos que hoje em dia há uma grande diversidade de cor nos ovos das aves. Os pássaros modernos põe ovos brancos, mas por vezes marrons, verdes, azuis, com manchas, enfim, uma infinidade de variações. Sempre se compreendeu que essas cores diferentes do branco estavam associadas nas aves com o comportamento parental, ou seja, o hábito dos pais de cuidar dos ninhos e ovos e claro, dos filhotes, após a eclosão. Um novo estudo divulgado pela revista Nature indica que esse traço de ovos manchados e coloridos surgiu muito antes do esperado, ainda em dinossauros, ancestrais das aves! Leia toda a matéria clicando em "Leia Mais" abaixo!

O ornitólogo Mark Hauber da Universidade de Illinois em Urbana comentou o estudo, do qual não estava envolvido, mas disse que é uma descoberta intrigante e que especialistas em aves acharam que ovos coloridos evoluíram recentemente em vários grupos de aves modernas e que os primeiros pássaros punham ovos puramente brancos como crocodilos.
Nas últimas décadas vários traços tidos como classicamente avianos, como as penas, a fúrcula, o hábito de chocar ovos e pulmões avianos, bem como ossos do esqueleto ocos, foram identificados em fósseis de dinossauros, comprovando que muito do que se achava ser exclusivo das aves surgiu de fato nos seus ancestrais dinossauros!
No ano passado, Jasmina Wiemann da Universidade de Yale publicou a primeira evidência de que ovos de dinossauros fossem coloridos, usando análises químicas para detectar dois pigmentos, a biliverdina (azul esverdeada) e a protoporfirina (vermelho acastanhado) em ovos de um dinossauro de 70 milhões de anos chamado Heyuannia, um tipo de oviraptorossauro da China.
Em seu estudo, Wiemann e colegas agora conseguiram coletar fragmentos de cascas de ovos de 15 dinossauros do período Cretáceo e também de aves extintas, assim como ovos de aves modernas, como galinhas, emus e até de répteis como crocodilos e jacarés. Em vez de usar análise química que já tinha previamente sido aplicada em seu outro estudo, eles aplicaram uma técnica inovadora que não requer a destruição das amostras para obter resultado. Esse método é chamado microespectroscopia, em que um laser é refletido pela superfície da casca do ovo e assim consegue indicar sua composição molecular, até mesmo se existem traços dos pigmentos que dão cores aos ovos.
A equipe descobriu ovos com padrões de cores e manchas bem variados. O dinossauro Deinonychus (Dinonico) teve seus ovos analisados e sua cor ser azul-esverdeado, já os dinos troodontídeos tinham ovos azul-esverdeados, bege ou brancos, enquanto que oviraptorossauros chineses do gênero Heyuannia, previamente testados, tinham ovos de um azul-esverdeado mais vivo. Mapeamento do acúmulo de protoporfirina na superfície de muitos ovos, incluindo do Deinonychus e alguns troodontídeos revelaram padrões rajados mais escuros sobre a cor de fundo.
O fato de muitos dinossauros carnívoros aparentados das aves terem exatamente o mesmo tipo de padrões de cores nos ovos formados pelos mesmos métodos de pigmentação da casca comprova que isso evoluiu primeiro nos dinossauros, talvez mais de 150 milhões de anos atrás e foi passado aos pássaros posteriormente. 
As cascas manchadas e tingidas provavelmente camuflavam os ovos de predadores assim como ocorre com as aves de hoje, além de que aves usam o padrão de manchas de seus ovos para evitar ser alvo de parasitismo de ninho ou de choca, em que uma espécie põe seu ovo no ninho de outro indivíduo para que ele crie seu filhote. Um exemplo disso é o Chupim, popular aqui no Brasil e que põe seu ovo no ninho de outro pássaro, que sem se dar conta cria o filhote parasita, que por vezes compete e até mata os filhotes reais do dono do ninho. Talvez no mundo dos dinossauros houvesse algo assim, em que um dinossauro punha ovos no ninho do outro para não precisar cuidar da cria, deixando a tarefa para outra espécie. Tendo ovos com um padrão de cor e manchas específica ajudaria um dinossauro a entender que ovos eram seus e quais não eram, assim removendo potenciais parasitas de ninho.
Tradicionalmente dinossauros eram tidos como procriadores reptilianos, que punham ovos e os abandonavam. Mas por causa da cor dos ovos ser tão ligada aos comportamentos complexos de cuidado parental em aves, essa descoberta reforça, junto com outras evidências fósseis, que dinossauros também eram pais cuidadosos e que se precaviam para proteger os ninhos. Além disso, ovos manchados frequentemente o são assim porque ficam expostos na superfície, indicando que dinossauros não enterravam ovos como crocodilos fazem e talvez as manchas evoluíram justamente porque esse hábito foi abandonado, protegendo ovos dos predadores.
Porém outros tipos de dinossauros mais afastados da linhagem das aves, como os saurópodes de pescoço longo e os ornitópodes bico de pato, como o Maiassaura, tiveram seus ovos analisados e nenhuma cor foi detectada, sugerindo que eles sim tinham ovos brancos e que talvez enterrassem ou ao menos ocultassem ovos com vegetação, como fazem tartarugas ou crocodilos. 
David Varricchio, especialista em reprodução de dinossauros da Universidade Estadual de Montana em Bozeman diz que a técnica que foi utilizada no estudo é ainda nova e que será provavelmente alvo de testes por outros especialistas, para garantir sua veracidade. Mas, ele completa, somente o fato de que estamos começando a discutir sobre a cor de ovos de mais de 66 milhões de anos de idade é espetacular.
Para estudos futuros, Wiemann planeja aumentar a amostra de ovos de dinossauros e ver o que ela consegue descobrir sobre quando exatamente os ovos coloridos evoluíram e surgiram na linhagem de dinos carnívoros e qual foi a primeira cor a aparecer. Vamos aguardar ansiosos por novas descobertas, pois a cada dia que passa as novas técnicas para análises paleontológicas se tornam mais e mais interessantes e potentes, permitindo compreender ainda melhor o mundo dos dinossauros!

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