É verdade galera, finalmente aconteceu o que muita gente jamais esperava acontecer! Um dinossauro foi descoberto no estado do Paraná! Tradicionalmente o meu estado natal é conhecido no meio da paleontologia por fósseis de peixes, mesossauros, mamíferos cenozoicos, mas jamais répteis arcossauros, especialmente dinossauros.
Arte por Rodolfo Nogueira
Entretanto, isso começou a mudar em 2012, quando um sítio fossilífero incrível foi encontrado na cidade de Cruzeiro do Oeste, no noroeste do estado. Lá fósseis de pterossauros haviam sido achados na década de 70 por moradores locais, o senhor Dobruski e seu filho. Na época o achado não foi reconhecido por cientistas, o qué só veio a acontecer após 40 anos, quando Paulo Manzig, geólogo, se deparou com uma amostra do material e resolveu investigar sua origem, redescobrindo o sítio.
Incrivelmente bem preservados, estes fósseis comprovaram que o estado do Paraná escondia um tesouro paleontológico esquecido nas rochas arenosas do pretérito deserto Caiuá, um deserto que existiu na região há mais de 80 milhões de anos. Os pterossauros foram descritos por pesquisadores em 2014 como a espécie Caiuajara dobruskii e no decorrer destes últimos anos mais e mais fósseis foram encontrados e preparados (removidos da rocha no laboratório) para estudo.
Dentre os inúmeros fósseis de pterossauros, um pequeno lagarto mesozoico também foi achado e posteriormente descrito como a espécie Gueragama sulamericana, alguns anos depois, aumentando nosso conhecimento sobre a fauna do Cretáceo paranaense.
Porém, qualquer entusiasta da vida pré-histórica e dos fascinantes dinossauros sabem que onde existiram pterossauros, poderiam e até provavelmente haveriam, dinossauros. Eles eram grupos aparentados de animais, pterossauros eram primos dos dinossauros e eles viveram na mesma era geológica, a Mesozoica, no decorrer dos períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo.
Se as rochas cretáceas do deserto Caiuá foram capazes de preservar um animal pequeno como um lagarto e animais frágeis como pterossauros, era mais que plausível que dinossauros, mais robustos e resistentes, fossem também preservados no mesmo local.
E assim foi! Um deles finalmente foi descoberto e descrito cientificamente. Dinossauros não apenas andaram pelo nosso estado do Paraná, como alguns morreram na região do Caiuá e foram fossilizados. Seus fósseis persistiram por mais de 80 milhões de anos até que os esforços dos paleontólogos e historiadores os libertassem de sua prisão rochosa.
Neurides Martins, historiadora e técnica do Laboratório de Paleontologia de Cruzeiro do Oeste, vem nos últimos anos tomando conta do acervo fóssil preservado no município com apoio da prefeitura. Neurides além de curar o material, organizando e preservando a coleção, especializou-se tecnicamente no proceqsso de preparação dos fósseis para remover a matriz rochosa que os envolvia, cuidadosamente, preparando os ossos para análise. É claro que, embora não fosse inicialmente sua especialidade, eventualmente a historiadora aprendeu a reconhecer a anatomia dos animais e a identificar os fósseis diferentes. E nos últimos anos começou a encontrar restos de um dinossauro nas rochas locais.
Após preparar os ossos, estes foram estudados em conjunto com o paleontólogo da USP Ribeirão Preto, Professor Dr. Max Langer, que assina como principal autor do estudo que descreve o novo dinossauro. Em conjunto com Neurides e também com o geólogo Paulo Cesar Manzig, além de outros colegas, publicam o artigo sobre a nova espécie nos Scientific Reports dpa revista Nature, renomado períodico científico internacional.
O mais novo dinossauro brasileiro e primeiro do Paraná recebeu o nome de Vespersaurus paranaensis, cujo significado deriva do local de sua descoberta, Cruzeiro do Oeste, e do estado em que foi achado, obviamente. Seu nome então quer dizer "Lagarto do Sol Poente Paranaense", o sol poente derivando do termo vesper (de vespertino e também se referindo a região oeste o de foi achado, uma vez que no oeste o sol se põe).
O animal, embora fosse um dinossauro, não era dos maiores, embora seja de grande importância científica. Está entre os mais completos do Brasil e talvez seja o dinossauro mais completo já encontrado na Bacia Bauru, o grupo de rochas que abrange o Grupo Caiuá. Este dinossauro bípede andavam perambulando pelo deserto Caiuá onde caçava pequenas presas, talvez até mesmo filhotes do próprio Caiuajara ou o lagarto Gueragama.
O Nome do dino foi um terópode pequeno com 1,5 metros de comprimento e que possuía dentes afiados para o corte da carne de suas presas e garras pontiagudas e afiadas para rasgar suas presas. Seus pés foram analisados e correlacionados com pegadas de terópodes da mesma região, permitindo supor que o animal tinha garras muito afiadas, comprimidas lateralmente. Essas pegadas curiosamente registram animais andando em um único dedo. Se supõe que o Vespersaurus poderia ter feito estas pegadas e que andava com dois dedos mais externos elevados do solo.
O esqueleto descrito é o dinossauro mais completo da Bacia Bauru e inclui elementos vertebrais do pescoço, sacrum e cauda, bem como fragmentos cranianos, um dente, um pé completo articulado, ossos da mão, braço e pernas.
Os autores aplicam um cálculo baseado no fêmur do animal para estimar sua massa em 11,28 quilos.
Este achado é de grande importância para a paleontologia mundial, expandindo nossa compreensão da distribuição geográfica desse grupo de dinossauros, os Noasaurinaes, bem como oferece mais detalhes sobre o ecossistema do deserto Caiuá existente no Cretáceo.
Para o município de Cruzeiro do Oeste o achado é um grande evento, pois além de inspirar a curiosidade dos moradores pelo assunto, instiga visitantes a conhecer a cidade a fim de conhecer seu patrimônio científico paleontológico, fomentando turismo na região e impulsionando a economia regional
Fonte:
Nature Scientific Reports: https://www.nature.com/articles/s41598-019-45306-9
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