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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Chilantaisaurus

Modelo do Chilantaissauro do Museu de História Natural de de Zhejiang


Os primeiros fósseis desse dinossauro carnívora foram descobertos a 60 km da localidade de Chilantai, na China, no ano de 1960 por paleontólogos soviéticos e chineses. Os fósseis vieram a ser descritos por Hu em 1964 em uma publicação escrita em chinês na revista Vertebrata PalAsiatica, que hoje está disponível em sua versão original e em inglês (link nas referências do post).

Em seu artigo Hu descreve os fósseis de dinossauro como um novo gênero, Chilantaisaurus, ou "Lagarto de Chilantai" em referência ao local onde foi encontrado e nomeia as espécies Chilantaisaurus tashuikouensis e Chilantaisaurus maortuensis. Ambos os epítetos específicos referem-se também às localidades de descoberta dos fósseis.
Modelo do Chilantaissauro do Museu de História Natural de de Zhejiang 
Os fósseis da espécie C. tashuikouensis foram tombados com o número IVPP V.2884 e  incluíam um grande úmero (osso do braço), uma grande garra ungueal da mão recurvada, cuja curvatura externa media 26 centímetros. A garra curiosamente era bem comprimida lateralmente. O material da espécie também incluía um ílio fragmentário, os dois fêmures, tíbia direita e esquerda, fíbula direita, metatarsos direitos II, III, IV e os metatarsos esquerdos III, IV. Esta espécie é considerada a espécie "tipo", ou seja, é com base nos seus traços que o gênero é definido. Qualquer dino que tiver características iguais a este e exclusivas entre si, é considerado um Chilantaisaurus. Se não tiver, não é considerado parte do gênero. Além disso, após décadas de revisões do gênero por diversos autores, esta é considerada a única espécie válida atualmente.
Garra do Chilantaisaurus no Paleozoological Museum of China
A outra espécie, C. maortuensis, foi registrada sob o número IVPP V.2885 e incluía um crânio incompleto, predominantemente sua parte posterior, maxila direita e maxila esquerda fragmentária além de algumas vértebras. A maxila podia comportar 12 dentes. Apesar de Hu ter considerado como uma espécie de Chilantaisaurus, Brusatte et al. (2009) redescreveram o espécime como um novo gênero, Shaochilong, identificando-o como um tipo de carcarodontossaurídeo e embora existam pesquisadores que discordem dessa classificação, até o momento ela permanece válida.
Desenho esquemático da garra ungueal e um dente do C. tashuikouensis
© Retirado de Hu (1964)

Além destas duas espécies, uma outra, C. zheziangensis,  foi descrita em 1979 por Dong, a partir de fósseis também oriundos da China, da Formação Yuanpu. Os restos eram muito escassos, somente um pedaço de uma tíbia direita e alguns metatarsos incompletos. No mesmo artigo Dong descreveu o terizinossaurídeo Nanshiungosaurus e revisões do material de C. zheziangensis sugerem que na realidade pertenceriam também ao terizinossaurídeo, o que invalida essa espécie de Chilantaisaurus.
O nome "Chilantaisaurus sibiricus" é baseado em um único metatarso distal encontrado na Rússia, em rochas do Cretáceo Inferior. Foi pobremente descrito, então suas afinidades não podem ser seguramente determinadas e sua classificação como uma espécie de Chilantaisaurus permanece muito questionável. 
Ilustração do Chilantaissauro
© Michael B. H.

O dinossauro conhecido como Chilantaisaurus embora seja conhecido a partir de poucos fósseis teve sua aparência restaurada com base no que ficou preservado completando seus traços com inferências de espécies aparentadas. Desde sua descoberta já foi identificado como um dinossauro terópode grande, de cerca de 10 a 13 metros de comprimento. Atualmente é comumente estimado em 11 metros de comprimento e aproximadamente 3 metros de altura. Inicialmente suas afinidades evolutivas ficaram incertas, tanto é que Hu em sua descrição inicial incluiu este dinossauro na família Megalosauridae, que por muito tempo foi um táxon "cesto de lixo", onde eram classificados dinossauros carnívoros grandes cujo parentesco era incerto, embora isso tenha mudado hoje e Megalosauridae não seja mais usada dessa forma. Alguns estudos subsequentes sugeriram que poderia ter sido um espinossauróide, possivelmente um membro primitivo da família Spinosauridae (Sereno, 1998; Chure, 2000; Rauhut, 2001) por causa dele possuir grandes garras nas mãos, que se acreditava serem únicas dos espinossaurídeos. Em um estudo de 2012 Benson e colegas comparam a garra dele com a do Suchomimus, ressaltando que enquanto as garras de espinossauros são grossas e robustas, a do Chilantaisaurus é bem mais fina lateralmente.
Garras do Chilantaissauro e Suchomimus
© Retirado de Benson et al. (2012)

Outros estudos sugeriram que poderia ser um membro de um ramo alternativo dos terópodes neotetanuros, com algumas similaridades com alossauroides, espinossauroides e celurossaurianos. No final das contas o Chilantaissauro foi sendo revisado e hoje é considerado um tipo de terópode neovenatorídeo, ou seja, da família Neovenatoridae, que abriga também os Megaraptores e tem parentesco próximo com Allosauridae e Carcharodontosauridae.
Ilustração antiga do Chilantaissauro: a garra da mão deveria ser maior
© Graham Rosewarne

O que se conhece de seu esqueleto não é muito, mas sugere um animal de porte robusto, com braços bem desenvolvidos. Provavelmente deveria estar entre os predadores de topo de seu habitat, que era a Formação Ulansuhai na china durante o estágio Turoniano do Cretáceo, há cerca de 93 a 89 milhões de anos atrás. Sua massa foi estimada em torno de 6 toneladas com base no tamanho do fêmur por Brusatte et al. (2010) e se essas estimativas de tamanho e peso estiverem corretas, este seria um dinossauro quase do porte do Tiranossauro rex, se não igual. 
Em linhas gerais, paleontólogos e paleoartistas reconstroem o Chilantaissauro com um focinho pontiagudo, alongado, bem ao estilo dos neovenatorídeos, uma vez que não temos o fóssil de seu crânio para saber exatamente o formato verdadeiro. Quaisquer elementos como cristas ou outros adornos são especulativos. Na imagem a seguir podemos ver que o artista optou por essa interpretação similar ao Neovenator.
Modelo do Chilantaissauro do Museu de História Natural de de Zhejiang

Por outro lado, sendo um dinossauro agora considerado como proximamente aparentado dos Megaraptora, alguns artistas derivam suas reconstruções com base em outros megaraptorídeos. Isso gera um corpo bem esguio com um focinho extremamente afilado, o que não é nem mais correto, nem menos que as outras reconstruções, afinal, não temos o crânio verdadeiro. Na reconstrução esqueletal abaixo o artista usou essa referência e até fez alguns cálculos de massa do animal, obtendo um valor bem abaixo das 6 toneladas sugeridas por Brusatte.
Esqueleto reconstruído do Chilantaissauro: partes em cinza são inferências

De qualquer maneira é bem obvio que o Chilantaissauro era um predador ágil e ao mesmo tempo forte, com dentes curvados e serrilhados e garras curvas poderosas para agarrar e dilacerar as presas. Provavelmente usava os longos braços para manter a presa controlada enquanto as mandíbulas finalizavam o abate.
O Chilantaissauro vivia em um ambiente que provavelmente compartilhava com Shaochilong, além dos dinossauros Gobisaurus, um tipo de anquilossaurídeo e Sinornithomimus, um ornitomimídeo. Ainda há relatos de que no mesmo local viveu um tipo de dinossauro iguanodontídeo, porém sua real identificação ainda não foi completamente confirmada.
Um bando de Sinornithomimus: observe o ambiente onde viviam
©Todd Marshall

 Gobissauro, uma possível presa do Chilantaissauro

Como seria de se esperar, o Chilantaissauro não é e nunca foi um dinossauro popular na mídia, provavelmente um efeito gerado pelo fato de ele ser tão pouco compreendido pelos cientistas. A única representação popular que conheço dele fora de livros técnicos em paleontologia é sua aparição na popular coleção "Dinossauros: Descubra os Gigantes do Mundo Pré-Histórico" da Editora Globo, originalmente uma publicação da Orbis Publishing no Reino Unido. Inclusive você pode ver abaixo a página do Chilantaisaurus retirada da edição 32 da coleção. Você pode baixar toda a coleção gratuitamente aqui no blog inclusive. Na época a visão do Chilantaissauro era mais como a de um alossaurídeo e isso fica evidente na bela arte de Graham Rosewarne na revista, embora a característica garra curva da mão tenha sido retratada muito pequena. Evidentemente que essas informações da revista em parte estão já desatualizadas, como a data das rochas que foi encontrado, hoje já datadas com mais precisão como sendo do estágio Turoniano.
© Orbis/Globo

A sua aparição mais recente na mídia veio em forma, curiosa e surpreendentemente, de um brinquedo colecionável. A empresa chinesa Vitae, recém chegada no mercado de brinquedos de dinossauros, tem focado bastante na produção de dinossauro asiáticos e produziu para 2018 um modelo de Chilantaisaurus tashuikouensis muito bonito e bem atualizado de acordo com as pesquisas mais atuais sobre ele. Esta réplica é obviamente feita em parceria com o Dino-Soar Studio, pois é praticamente uma cópia em forma de brinquedo da estátua em escala 1:20 que o estúdio fez para um museu chinês. Compare a foto no início deste post com essa abaixo e verá que até as cores são praticamente iguais, embora mais simplificadas no brinquedo. Isso é bem interessante, pois podemos agora adquirir um boneco do Chilantaissauro, um dinossauro obscuro, para enriquecer nossas coleções em questão de diversidade de espécies. Este dinossauro de plástico é vendido no Brasil pela Dinoloja, você pode clicar aqui para ir até o site.



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