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terça-feira, 29 de março de 2016

Staurikosaurus

Arte de Brasílio Matsumoto
© Nestlé/6B Estúdio?

O Staurikosaurus viveu no Carniano e possivelmente Noriano
© Patrick Król Padilha

A história do Estauricossauro é sem dúvida uma de pioneirismo e inovação em vários aspectos. Em 1905 nasceu no Brasil, na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul, um menino. Llewellyn Ivor Price, filho de estrangeiros estadunidenses, viria a estudar nos Estados Unidos onde se apaixonou pela paleontologia. Após graduar-se na Universidade de Harvard em 1936, retorna ao Brasil onde estudos paleontológicos eram feitos quase que exclusivamente por pesquisadores estrangeiros. Price retorna à sua terra natal, o Rio Grande do Sul e próximo de sua cidade de nascença descobre pela primeira vez restos de dinossauros no Brasil.
O jovem Llewellyn Ivor Price
© Autor desconhecido - informe se souber
Os restos do dinossauro que descobriu acabaram sendo levados aos Estados Unidos, pois foram coletados durante uma expedição do Museu de Zoologia Comparada de Harvard e ficaram lá aguardando análises, com o número tombo M.C.Z. No. 1669. Eventualmente estes fósseis foram entregues para Edwin Harris Colbert, que foi incumbido de estudá-los. O estudo descritivo do novo dinossauro brasileiro demorou, só saiu em um periódico científico em 1970, no American Museum Navitates, mais de 20 anos após a coleta do dinossauro.
Assim sendo, essa história traz muitas novidades. Um novo paleontólogo brasileiro, pois Price foi um dos pioneiros da paleontologia nacional tendo ficado no país, contribuindo profundamente para o campo em diversas áreas da paleontologia, especialmente na de paleovertebrados. A outra novidade era o novo dinossauro, o primeiro encontrado no Brasil e também o primeiro descrito formalmente pela ciência para a região do hemisfério sul, assim como era algo singular por ser um dos dinossauros mais antigos, era do Triássico, conhecidos até então.
O espécime de Estauricossauro foi encontrado por Price no sítio Jazigo Cinco, Membro Alemõa da Formação Santa Maria, que hoje  é uma região do Rio Grande do Sul integrante do Geopark Paleorrota. Os ossos estavam em rochas sedimentares do estágio Carniano inicial, uma subdivisão do Triássico Superior.
Colbert nomeou o dinossauro como Staurikosaurus pricei, cujo nome homenageia a região de seu achado e seu descobridor. O nome ""Staurikosaurus" quer dizer "Lagarto Cruz", pois o termo Staurikos = da Cruz e Sauros = Lagarto. Entretanto o significado real do nome foi escolhido  por Colbert para significar "Lagarto Cruzeiro do Sul" em referência à constelação Cruzeiro do Sul, visível somente do hemisfério sul da Terra, pois na época em que esse dinossauro foi primeiramente publicado, achados de dinossauros fora do hemisfério norte, especialmente tão antigos, eram raríssimos. O nome "pricei" é claramente uma homenagem a Price, que descobriu o dino. Podemos dizer que ele era o "Lagarto Cruzeiro do Sul de Price" em uma tradução completa do nome.

No seu estudo original, Colbert (1970), descreveu o esqueleto incompleto do Staurikosaurus como composto dos seguintes elementos:
Esqueleto pós craniano do Staurikosaurus reconstruído
© Colbert (1970)
Mandíbula esquerda do Staurikosaurus reconstruída
© Colbert (1970)
  • Dois ramos mandibulares, sem a região da sínfise (parte onde os ossos se encontram na frente);
  • Ossos dentários mostrando as bases de alguns dentes nos alvéolos;
  • Porção distal da escápula (distal é a parte mais distante do centro do corpo);
  • Final proximal do úmero direito (proximal é a parte mais perto do centro do corpo);
  • 20 vértebras pré-sacrais;
  • 3 vértebras sacrais;
  • 35 vértebras caudais, 
  • 1 chevron;
  • Várias costelas e fragmentos de costelas; 
  • Ílio direito e esquerdo;
  • Púbis e ísquios;
  • Fêmur direito e esquerdo;
  • Tíbias e fíbulas;
  • Vários fragmentos sem identificação definitiva;
A: Pelve do Herrerasaurus e B: Pelve do Staurikosaurus
© Colbert (1970)
Fêmures de A: Herrerasaurus, B: Ischisaurus  e C: Staurikosaurus
© Colbert (1970)
Ossos da perna do Staurikosaurus: Fêmur, Tíbia e Fíbula
© Colbert (1970)
Infelizmente desde então não temos mais novos achados de fósseis desse dinossauro, mostrando que o único esqueleto encontrado é sem dúvida uma raridade. Não se sabe exatamente o motivo dessa raridade, se a razão é que o ambiente em que viveu era muito florestado, impropício para fossilização ou se o animal era mesmo raro em vida, não tendo uma grande população. Eu pessoalmente tenho tendência a crer na segunda opção, uma vez que as rochas onde este dino estava preservado já se mostraram muito ricas em fósseis de vertebrados. O único esqueleto,  MCZ 1969, continua tombado nos Estados Unidos, havendo uma réplica de boa qualidade no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Entretanto, sendo um dinossauro tão antigo é surpreendente que tantas partes sejam preservadas e dadas suas características basais podemos reconstruir sua aparência com relativa segurança baseando-se em animais aparentados.
Fóssil do Staurikosaurus
© Foto de Alexander Kellner/Ciência Hoje
Os ossos presentes nos dão uma boa noção da forma e aparência geral do dinossauro, pois a maior parte de sua coluna vertebral estava presente, bem como pelve, membros traseiros e mandíbulas. Partes ausentes no fóssil são braços e mãos, pés, partes da cauda e pescoço e para nossa frustração, o crânio do animal. Com base nos traços anatômicos desse esqueleto e de dinossauros aparentados, como o Herrerasaurus, foi possível reconstruir com boa fidelidade o esqueleto do Estauricossauro.

Ossos encontrados do Staurikosaurus
© Retirado de Alcober e Martinez (2010)
Quando um paleontólogo estuda um animal fóssil, precisa comparar o material que está estudando com outros já estudados por ele ou outros pesquisadores para poder identificar qual animal aquele fóssil representa. Às vezes um fóssil em estudo é identificado como uma espécie já conhecida, mas em outras é diagnosticado como uma nova espécie ou gênero. Para poder fazer essa declaração, de que o fóssil é uma nova espécie ou gênero, o paleontólogo deve apontar no seu estudo quais características do fóssil são únicas dele.
Essas características são conhecidas tecnicamente como caracteres e quando um fóssil apresenta muitos caracteres únicos, exclusivos dele, pode ser seguramente descrito como um novo animal. Tais caracteres exclusivos são chamados de autapomorfias, podendo ser exclusivas de um único gênero ou de todo um grupo. A descrição completa do conjunto de caracteres anatômicos exclusivos de uma espécie ou grupo é chamada de diagnóstico. No caso do Staurikosaurus, Sues (1990) afirmou que existem pelo menos 14 autapomorfias que identificam-no como um animal único e diferente de todos os demais, sendo elas:
  • Mandíbula quase tão longa quanto o fêmur, sugerindo uma cabeça grande;
  • Osso dentário profundo, mas fino, com 13-14 dentes e com processo retroarticular bem desenvolvido;
  • Coluna vertebral com 9-10 vértebras cervicais, 15 dorsais, 2 sacrais e mais que 40 caudais.
  • Presença de somente duas vértebras sacrais, característica muito primitiva;
  • Vértebras cervicais 3,4 e 5 alongadas, representando condição primitiva;
  • Vértebras cerviais craniais sem epipófises;
  • Ausência de articulação intervertebral acessória;
  • Escápula delgada sem expansão proximal;
  • Coracoide grande em forma de placa;
  • Úmero com crista deltopeitoral proeminente (caractere primitivo) e extremidades articulares expandidas;
  • Ílio com parede medial do acetábulo semiperfurado muito desenvolvida, similar a Herrerasaurus, mas diferentes de outros dinossauros;
  • Púbis longo, dois terços do comprimento do fêmur;
  • Ossos dos membros ocos, mas com paredes grossas;
  • Fêmur robusto com um eixo (diáfise) em forma de S;
  • Tíbia e fíbula levemente mais longas que o fêmur;
Além dessas, Novas (1993) adicionou que o Estauricossauro se distingue de outros dinossauros também devido à presença de um chanfro distal na margem anterior do púbis. Já Langer e Benton (2006) observaram que o Staurikosaurus também se distingue por um trocânter anterior reduzido a uma cicatriz. Um trocânter é uma saliência encontrada no fêmur onde se ligam os músculos.


Para a maioria das pessoas os dinossauros mais interessantes são os gigantes dos períodos Jurássico e Cretáceo, os enormes saurópodos ou os ameaçadores tireóforos (estegossauros e anquilossauros), também os temíveis tiranossaurídeos ou seus rivais ceratopsídeos, isso tudo graças à sua imponência explícita por tamanho colossal, enormes dentes, chifres e espinhos ou até couraças impenetráveis. Entretanto pra mim existe uma beleza misteriosa nos primitivos dinossauros do período Triássico, um ar de encantamento pelo desconhecido, pelo seu aspecto ancestral e primordial.
Reconstrução do Staurikosaurus
© Márcio L. Castro
Foram estes os dinossauros que lá no Triássico deram origem a uma saga de mais de 150 milhões de anos e o Estauricossauro era um dos animais no centro desse palco evolutivo. Os primeiros dinossauros surgiram a partir de répteis arcossauros simples, isto é, se comparados aos dinossauros mais tardios. Estes répteis eram pequenos e portanto, os seus descendentes dinossauros no começo não eram em si muito variados em forma ou tamanho. A maioria dos dinossauros triássicos é bastante semelhante entre si no que diz respeito à morfologia e o Staurikosaurus não é exceção. Ele se parece com o Herrerasaurus e até assemelha-se com outras linhagens como os prossaurópodes entre outros dinos de seu tempo. No Triássico a grande maioria dos dinossauros era composta de animais bem pequenos, com raros gêneros alcançando tamanhos maiores. Predominava a postura bípede, membros dotados de 5 dedos e muitas vezes dentes adaptados a dieta onívora, instalados em crânios pequenos pendurados em pescoços flexíveis em forma de S. 

Reconstrução do Staurikosaurus
© Rodolfo Nogueira
Essa é uma descrição bem genérica dos dinossauros primários, mas que descreve bem a aparência do Staurikosaurus, nosso dino gaúcho. Ele era um animal que media pouco mais de dois metros 2,25 metros para ser exato, boa parte desse comprimento sendo cauda, que diga-se de passagem era longa e esguia, tendo mais de 40 vértebras no total, embora nem todas tenham sido bem preservadas no fóssil. Grillo e Azevedo (2010) fizeram uma análise detalhada da cauda do Estauricossauro, estimando seu comprimento em 2,25 metros e da cauda em 1,35 metros, equivalente a 60% do comprimento total do dinossauro. A parte posterior da cauda era reforçada por estruturas das vértebras caudais, que na opinião de Ostrom (1969a), funcionavam como um estabilizador que facilitava a corrida e saltos do animal.

Holótipo do Estauricossauro, fóssil MCZ 1969
© UFRJ
Apoiava o corpo sobre duas pernas longas, o que dava-lhe agilidade, ao contrário de répteis mais antigos que mantinham as pernas em anguladas em relação ao corpo. Esse traço dos dinossauros foi importante para sua evolução bem sucedida e no caso do Estauricossauro, seus ossos das pernas indicam boa capacidade de locomoção com agilidade, embora os pés em si não tenham sido preservados. Sendo um animal pequeno precisava ser rápido tanto para capturar presas ágeis como para fugir de potenciais predadores.
Apesar de parecer que mais de dois metros é um tamanho grande, o corpo em si era pequeno e leve, deveria pesar algo em torno de 30 quilos e sua altura não deveria superar 80 centímetros de altura, chegando a 1 metro de altura com o corpo empinado, o que faria do Estauricossauro um dinossauro do tamanho equivalente ao de um Lobo-Guará ou ainda, para facilitar a comparação, de um cachorro grande. 

Estauricossauro e um humano de 1,80 metros.
© Wikimedia Commons
Era um animal predador, mas representava risco apenas animais pequenos como os rincossauros, cinodontes ou filhotes de animais maiores, bem como invertebrados da região onde vivia. É improvável que este dinossauro se arriscasse a atacar presas grandes e muito mais fortes, preferindo répteis como procolofonídeos pequenos que pouca resistência ofereceriam. 
Continuando a abordar a anatomia do animal, sabemos que seus braços não ficaram preservados, nem seus pés, por isso paleontólogos usam como base de reconstrução os braços de outros dinossauros aparentados como o Herrerasaurus. De modo geral, os ancestrais dos dinossauros também eram animais dotados de cinco dedos, que no decorrer do processo evolutivo foram sendo modificados. Dinossauros mais avançados geralmente possuem em média 3 dedos nas mãos e pés, mas estes mais antigos tinham também dois dedos adicionais, embora reduzidos, comprovando sua descendência de répteis pentadáctilos (que tem cinco dedos). 
Observe o número de dedos do Staurikosaurus
© Felipe Alves Elias
Além disso, possuía uma outra característica primitiva, somente duas vértebras unindo a pelve à espinha (dinossauros mais tardios tem mais vértebras, geralmente cinco, realizando essa função) segundo alguns autores, embora estudos mais recentes, como Bittencourt e Kellner (2009), indiquem que na realidade o Staurikosaurus tivesse três vértebras sacrais, o que não altera muito seu estado de dinossauro basal.
Como o crânio do Staurikosaurus é desconhecido, não sabemos a verdadeira forma de seu rosto, somente tendo sua mandíbula inferior para basear as reconstruções. Mas ela preservou restos de dentes e isso nos permite saber que eram curvados, serrilhados e adaptados para cortar carne. Na maioria das reconstruções modernas o crânio é baseado no do Herrerasaurus.

Esqueleto com musculatura da pelve e pernas do Estauricossauro
© Orlando Grillo
O Estauricossauro é hoje em dia considerado como um dinossauro herrerassaurídeo e desde sua descoberta ficou claro que era um pequeno predador. Mas desde então houveram divergências entre cientistas sobre qual sua classificação exata. Houveram classificações variando entre ele como um dinossauro terópode a até mesmo como um dinossauriforme primitivo, não sendo um dinossauro verdadeiro. 
Precisamos lembrar que pelo modelo mais aceito da filogenia dos dinossauros, este grupo surgiu no Triássico e depois dividiu-se em duas linhagens principais, Saurischia e Ornitischia. Em Saurischia estão os dinossauros herbívoros, ceratpsídeos, anquilossauros, paquicefalossauros, hadrossauros e afins. Dentro de Saurischia tínhamos duas linhagens, a dos terópodes, dinossauros carnívoros bípedes e a dos sauropodomorfos, herbívoros de pescoço longo.
Filogenia tradicional de Dinosauria: o Estauricossauro estaria em Saurischia
© Patrick Król Padilha
Se eu perguntasse a você qual a posição de um Tiranossauro e qual a posição de um Apatossauro nessa classificação, você facilmente conseguiria apontar o T.rex como um terópode e o Apatossauro como um saurópode. Mas quando estudamos dinossauros primitivos, como o Estauricossauro, as diferenças entre os animais das duas linhagens são  muito menores e fica mais complicado dizer com certeza qual ramo evolutivo abrigava aquele animal.
Por isso a classificação do Staurikosaurus sempre foi alvo de debates e dúvidas, mesmo entre paleontólogos especializados em dinossauros primitivos. Alguns afirmaram que ele não deveria ser considerado um dinossauro verdadeiro, outros demonstraram que sim, era um dinossauro, mas que não era um saurísquio verdadeiro e ainda houveram divergências sobre se ele era um terópode ou um tipo de sauropodomorfo primitivo. Com o tempo, análises mais cuidadosas de seus fósseis e de novos animais primitivos descobertos pelo mundo, esclareceu a posição evolutiva do Staurikosaurus.



Certamente um dinossauro primitivo
© Artista desconhecido - se souber, informe para darmos os créditos

Mortimer aponta que Benedetto (1973) e Galton (1985) foram os primeiros a reconhecer que Staurikosaurus Herrerasaurus eram mais aparentados entre si do que com sauropodomorfos ou neoterópodes (terópodes mais modernos do final do Triássico e início do Jurássico), incluindo ambos na família Herrerasauridae e no clado Herrerasauria. Benedetto (1973) também inclui no clado Herrerasauridae o Eoraptor, outro pequeno dinossauro do Triássico.
Sereno et al. (1993) concluíram que o Staurikosaurus não era um terópode e consideraram-no como um saurísquio basal fora de Theropoda e Sauropodomorpha. Colbert originalmente tinha incluído o Estauricossauro em Palaeosauriscidae, uma família agora inválida baseada em Efraasia, um tipo de prossaurópode. Todas as análises significantes da filogenia dos dinossauros desde 1994 têm incluído Staurikosaurus no clado Herrerasauridae, que é o atual consenso científico para a classificação desse gênero.
Pesquisas mais atuais, como Sues et al. (2011) apoiam a ideia de que o Staurikosaurus é um gênero aparentado ao Herrerasaurus e que ambos são de fato dinossauros terópodes e também que evoluíram depois que a linhagem dos saurópodes se dividiu da dos Terópodes, ou seja, eles não seriam tão primitivos assim.
Uma análise filogenética de Sues et al. (2011) exclui o Eoraptor de Herrerasauridae e inclui Chindesaurus e Herrerasaurus como gêneros mais derivados que Staurikosaurus. Alcober e Martinez (2010) incluíram Sanjuansaurus em Herrerasauridae, enquanto que Sues (1990) incluiu na família o gênero Ischisaurus. Outro membro do clado já proposto foi Caseosaurus, do Texas, encontrado na Formação Dockum. Vale comentar que Alcober e Martinez (2010) concluíram que o Staurikosaurus e o Sanjuansaurus são aparentados proximamente baseado em similaridades do púbis e tíbia. Podemos então concluir que embora sejam gêneros diferentes, os vários dinossauros primitivos do triássico são de algum modo aparentados ao Estauricossauro.
Staurikosaurus em seu habitat
© Mark Hallett
Sabendo de todas essas características sobre a anatomia do Estauricossauro e sobre seu parentesco, os paleontólogos puderam reconstruir uma imagem boa de como esse animal era em vida. Um pequeno dinossauro predador bípede e ativo, que caçava vertebrados terrestres pequenos a médios, como cinodontes, rincossauros e sinápsidos herbívoros. 
A mandíbula do Estauricossauro sugere uma junta deslizante permitia que ela se movesse para trás e para frente, além de para cima e para baixo, o que permitia que presas menores fossem empurradas garganta abaixo usando esses movimentos com ajuda dos dentes curvados para trás. Esse traço era comum em terópodes primitivos, mas desapareceu dos terópodes mais derivados.
O Estauricossauro viveu no final do período Triássico, durante o que chamamos de Carniano Tardio e Noriano Inicial, há aproximadamente 230 milhões de anos atrás, o que faz dele um dos dinossauros mais antigos conhecidos. Para ter mais exatidão na idade das rochas do qual esse dinossauro veio, paleontólogos há algum tempo realizaram uma datação por elemento radioativo, de Urânio-Chumbo (U-Pb), da Formação Santa Maria. 

Formações da Paleorrota: em vermelho a Formação Santa Maria e Caturrita
© Wikimedia Commons
Os resultados do teste indicaram uma idade em cerca de 233,23 milhões de anos, sendo 1,5 milhões de anos mais velha que a Formação Ischigualasto da Argentina, sendo as duas relativamente equivalentes como fontes dos restos mais antigos de dinossauros. Foi dessa formação argentina que vieram os fósseis do Eoraptor, Herrerasaurus entre outros dinos aparentados do Estauricossauro. É possível que, se esses animais tivessem se espalhado pelo continente na época (Pangeia) tivessem até convivido com o dino brasileiro.
Mas uma coisa é certa, durante o período Triássico os dinossauros desempenhavam um papel pequeno na vida da Terra, não eram os gigantes dominantes dos ecossistemas, papel que só viriam a tomar no Jurássico inicial. O Estauricossauro coexistiu com grandes répteis arcossauros rauisúquios como Saurosuchus e Prestosuchus, que eram os predadores de topo do ecossistema, tendo que tomar cuidado para não virar lanche desses animais maiores.
A paleocomunidade do Estauricossauro incluía rincossauros e dicinodontes de médio a grande porte. Aetossauros onívoros de médio porte e cinodontes estavam presentes. Dinossauros eram representados por herrerassaurídeos e pelo prossaurópode Saturnalia. A ocorrência contemporânea dos terópodes basais Herrerasaurus, Staurikosaurus e Eoraptor com o ornitísquio Pisanosaurus sugere que as linhagens principais de carnívoros e herbívoros já estavam estabelecidas durante a parte média do Carniano.
Estauricossauro atacando o Unaysaurus
©Pietro Antognioni
A Formação Santa Maria do qual provém o Estauricossauro é riquíssima em fósseis de vertebrados, com diversos tipos de répteis carnívoros, onívoros e herbívoros. Abaixo compilamos uma lista com diversos animais conhecidos das mesmas rochas do "lagarto cruzeiro do sul".
  • Aetobarbakinoides (Aetossaurídeo)
  • Barberenachampsa (Proterosuquídeo)
  • Barberenasuchus (Arcossauriforme de classificação incerta)
  • Belesodon (Sinônimo de Chiniquodon)
  • Brasinorhynchus (Rincossauro)
  • Buriolestes (Sauropodomorfo carnívoro)
  • Candelariodon (Cinodonte)
  • Protuberum (Cinodonte traversodontídeo)
  • Santacruzodon (Cinodonte traversodontídeo)
  • Exaeretodon (Cinodonte traversodontídeo)
  • Cerritosaurus (Proterochampsídeo)
  • Chanaresuchus (Proterochampsiano)
  • Chiniquodon (Sinápsido)
  • Trucidocynodon (Sinápsido)
  • Dagasuchus (Arcossauro pseudosúquio)
  • Decuriasuchus (Prestosuquídeo)
  • Ixalerpeton (Lagerpetídeo)
  • Pampadromaeus (Sauropodomorfo basal)
  • Polesinesuchus (Aetossaurídeo)
  • Procerosuchus (Rauisúquio)
  • Saturnalia (Sauropodomorfo basal)
  • Spondylosoma ( Arcossauro avemetatarsaliano)
  • Teyuwasu (Arcossauro, incerto se é mesmo dinossauro)
Embora alguns outros animais do Triássico da América do Sul não tenham sido encontrados diretamente nas mesmas rochas que o Estauricossauro, como Herrerasaurus, Unaysaurus entre outros, não descarta-se a possibilidade que tenham dividido o mesmo ambiente. Rochas da Formação Ischigualasto da Argentina tem praticamente a mesma idade da Formação Santa Maria, como vimos no texto anteriormente e a Formação Caturrita, também do Rio Grande do Sul, está sobrepondo a Formação Santa Maria, ou seja, são rochas levemente mais novas, mas não tão diferentes temporalmente para que seja impossível dos animais de uma formação tenham coexistido com os da outra. Existem casos de fauna compartilhada entre formações diversas com pequenas diferenças temporais.
Em geral, pesquisas indicam que o ambiente nos ecossistemas triássicos nessa região da América do Sul era mais úmido, com vegetação abundante, muitas samambaias, coníferas e outras plantas gimnospermas, além das tradicionais briófitas. O ambiente não era necessariamente pantanoso, mas tinha fluxos de água frequentes com áreas de planícies florestadas permeadas por riachos. Esse habitat era casa de uma grande variedade de animais já mencionados anteriormente.


Apesar de ser um dinossauro bem importante para a paleontologia brasileira e mundial, afinal é um dos mais antigos dinossauros conhecidos, o Staurikosaurus é pouco popular entre o público leigo. A única aparição mais significante dele na mídia popular foi mesmo na figurinha do álbum Dinossauros do Chocolate Supresa da Nestlé, no qual era a figurinha número 2 da coleção original de 1993. O card continha informações sobre o dinossauro inclusive mencionando sua importância como um dos dinossauros mais antigos conhecidos. Apesar de bastante antigo hoje, o álbum continha informações bem corretas e a figurinha representava o dinossauro de forma bem acurada.

Página do álbum Nestlé - Card por Brasílio Matsumoto
© Nestlé/6B Estúdio?
Além do álbum, pouco se fala do Estauricossauro na mídia, não foi utilizado em nenhum grande filme ou série de TV, nem mesmo em vídeo-games, geralmente aparecendo somente em alguns poucos livros especializados em dinossauros, como enciclopédias ou que focam em dinossauros brasileiros. Quase sempre o conteúdo sobre ele se limita a poucas linhas ou parágrafos infelizmente, apesar de ser um animal muito interessante.
A coleção de revistas "Dinossauros: descubra os gigantes do mundo pré-histórico" da Editora Globo, trouxe na edição 28 o Staurikosaurus como animal na capa, passando vários dados sobre a espécie na seção "Identidino" do fascículo.
Identidino do Estauricossauro
© Editora Globo
O Estauricossauro foi usado como símbolo do Geoparque Paleorrota no Rio Grande do Sul, sendo exibido em forma de uma silhueta branca no centro da bandeira do Rio Grande do Sul, uma homenagem ao animal que foi o primeiro dinossauro oficialmente descrito do Brasil e por ter sido achado na região do geoparque.


Infelizmente para minha grande frustração como colecionador de miniaturas, nenhum brinquedo representando o Staurikosaurus foi fabricado até o momento da produção deste post, maio de 2018 para ser exato. Pode ser que futuramente algum artista ou empresa produza uma miniatura desse dinossauro para nossa felicidade.
Se você ficou curioso se isso já aconteceu e gostaria de ter uma miniatura ou boneco de Staurikosaurus na sua coleção, acesse a Dinoloja e veja se temos algum disponível! Se não tivermos, podemos encomendar desde que haja algum modelo do dinossauro em produção. Faça seu orçamento no site, www.dinoloja.com.


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